Sonhos
Por Amor...
...a S. sempre sonhou ter uma carreira profissional evolutiva, com viagens, possibilidade de evolução e que a satisfizesse, enquanto pessoa e profissional. Sonhava também dançar, danças latinas. Nunca o fez, foi adiando, abdicou...afinal dançar não era impriscindivel e até tinha um trabalho que lhe pagava, estava na área e tinha o melhor: chegar a casa e ter um colo que a fazia não lamentar os sonhos postos na prateleira. Inúmeros foram os dias que assistiu a jogos da divisão de honra e se divertiu, noites no Bairro Alto, onde até conseguia divertir-se. Afinal eram momentos de cumplicidade desejados e divididos. Um dia, sem aviso, a sua cara metade comunicou-lhe que tinha outra cara metade e ia realizar os seus sonhos de ser feliz. O mundo de S. desabou, caiu fundo e relembrou tudo o que tinha sonhado, investiu...hoje tem o emprego que sempre sonhou, Portugal de norte a sul, ilhas e Angola, todos os dias confirmam que está no seu elemento e começou a dançar, descobriu que era mais que um sonho, era uma paixão e até se ajeita....Hoje com dias melhores e outros piores, segue o seu caminho. Realizou parte dos seus sonhos, está feliz.
...O C. sempre quis ter uma vida preenchida, arriscar novo trabalho, sair daqui...ter alma de viajante e evoluir...abdicou tem uma família e está compensado, tem momentos de saudade mas refere que não podia ter melhor. Está feliz.
...A M. queria viajar, trabalhar num sitio/país que a desenvolve-se como pessoa. Queria uma família e estabilidade. Trabalha num sitio que odeia, sente-se presa e desiludida, mas tem um colo que compensa e um filho que a ama. Está feliz.
...O E. sempre sonhou viver e trabalhar em Angola. A mulher nunca o desejou e tornou claro que nunca alinharia nisso. Ele foi, acreditando que se estabiliza-se lá as coisas e cria-se condições ela iria, afinal também fazia parte do sonho ter a mulher e o filho consigo, senão de nada valeria a realização do sonho. Criou as condições, arranjou estabilidade para criar a família...ela não foi, colocou a hipótese, ele voltou. Trabalha num sitio que detesta e onde não existe possibilidade de evolução. Paga-lhe as contas e tem o melhor: a mulher e o filho...está feliz.
...A S. sempre quis ir para a faculdade. Mas o marido não compreendia o capricho, afinal a empresa era da família e dava-lhes uma vida confortável e desafogada, tinham casa com piscina e viajavam...ela também queria um filho e afinal ter um curso era apenas um sonho pessoal. Teve a filha, manteve a casa, a piscina, as viagens e o marido...até ao dia que ele saiu, tinha outra pessoa e ia construir nova família. O mundo desabou, perdeu o marido, o trabalho e a tal estabilidade "que chegava". Foi para a faculdade, tirou o curso, enquanto trabalhava em 2 turnos num hipermercado, a filha ficou consigo pois o marido abdicou dela em tribunal...não há espaço na sua nova vida para o passado (?!)...criou o seu trabalho e exerce...realizou o sonho e acabou tal como tinha idealizado...está feliz.
...O J. sempre sonhou tirar um mestrado em Londres, evoluir na sua área. O seu colo, não achava justo, não estava a pensar nela e nas suas necessidades, disse-lhe que não tolerava uma relação à distância, que se ele fosse estava tudo acabado. Ele não foi, afinal também há bons mestrados em Portugal e o colo estava lá para o receber e acarinhar. Um ano depois, o colo concretizou o seu sonho, trabalhar em televisão e descobriu que não havia espaço para o J. no seu sonho. Durante um ano, ele tentou encontrar-se, um dia recordou o seu sonho e partiu...Está na universidade que sempre quis, num numero limitado de vagas, ele entrou onde queria...Está feliz.
Quando estamos apaixonados, quando amamos não questionamos se vale ou não a pena, quase que é natural adiarmos ou abdicarmos do que sonhámos. Mas será justo um de nós ter de abdicar, será justo pedir ao outro que abdique??
Nunca consegui perspectivar as coisas deste modo, talvez tenha sido sempre o meu maior defeito e continue a ser...mas sempre acreditei que ninguém devia abdicar, apenas alargar o sonho e arranjar espaço para o outro, inclui-lo ou incluir-me a mim no que o outro sonha, mais que não seja estar nos bastidores e dividir a caminhada.
15 comentários:
Não acho justo abdicar de sonhos, e menos ainda pedir ao outro que abdique... mas as coisas não são na maior parte das vezes tão lineares e fáceis assim, quando envolve uma pessoa que se ama a máquina de pensar é normalmente reprogramada, ou pelos menos afectada, não é tão ligeiro e simples tomar decisões racionais, principalmente quando poderá envolver uma escolha entre dois "amores", porque nem sempre é possível alargar o sonho e conjugar as duas pessoas, os sonhos de cada uma delas e tanto mais.
A partilha é como a sexualidade, descobre-se e constrói-se ao longo de toda a vida, e sim, sendo tão bom partilhar com quem se gosta, que pode ser melhor que partilhar sonhos mútuos, e lutar em conjunto por os alcançar, ou arranjar o nosso espaço no sonho de outro para que o sintamos e se torne nosso também?
Não podias ter mais razão, na minha opinião, mas, e não será isso que a maior parte de nós quer(ia), procura(va) e gostava de viver? Nem sempre é possível, nem sempre acontece, e também não é fácil quando nos confrontamos com as situações, e a obrigatoriedade de tomar decisões e escolher caminhos, termos o olhar adequado, e a certeza da decisão certa...
O humano é um mamífero complexo... e tão básico ao mesmo tempo ;)
Não será básico apenas. A complexidade exige hipoteses e testagem das mesmas...os humanos há muito que deixaram de o fazer. O olhar para o lado é algo que muitas vezes incomoda, perceber que o outro não está bem e precisa de algo, não é fácil de admitir...talvez esteja para aqui a teorizar e eu também nunca o tenha feito, ou talvez o faça de mais.
Concordo quando dizes que a partilha é como a sexualidade, constroi-se ao longo da vida...mas não fará tudo parte do mesmo, não deveria isso ser um todo??
Um dia disseram-me: "não posso estar mais contigo porque vês dentro da cabeça das pessoas"...ao que respondi: "não tenho bola de cristal, não vejo nada que não seja mostrado, talvez dê atenção ao outro" e a resposta veio: "é esse o teu problema, as pessoas sentem-se invadidas, vulneravéis".
Os sonhos encaixam-se neste campo para mim, são o outro, existe meio termo, se eu estiver para o outro na busca das suas concretizações, espero que o faça por mim também...mas lá está nunca é assim tão linear, e se a maioria de nós o procura e quer viver então porque foge tanto, porque se sente ameaçado. Não há decisões certas, há decisões...se as tomamos é porque na altura faziam sentido, eram adequadas à nossa realidade. Não sou expert, ou dona de uma verdade absoluta, mas continuo a acreditar que cada vez mais as pessoas não se ouvem, não se olham e mais grave não se veêm.
Também acho que as distâncias entre as pessoas aumentaram... na mesma proporção que diminuíram as distâncias para tudo o resto.
Dou-te toda a razão Gaulês. O que sinto é que hoje as coisas, vulgo relações, são descartavéis...não estás tu, alguém há-de estar...realmente, devia ter vivido para aí nos anos 70...no máximo nos inicios dos 80...ou talvez não seja nada disso e vivo agora para me adequar ao mundo que me rodeia, perceber que na época do descartavel, da fast- food e da ausência de valores as coisas são mais simples: o que não se quer deita-se fora...com tanta loja do chinês algo há-de se encontrar ;)
Épocas já as houve muitas, cada uma terá tido as suas coisas boas e más, irias encontrar em qualquer uma delas igualmente coisas com que não te identificarias... não ponhas tudo em causa por um dia mau, a pessoa que és, os teus valores, a tua essência, e as cores que emanas não podem ser atiradas assim ao ar! Estás a esquecer o lado bom e o quanto gostas do que te dá ;)
Relaxa, Lagarta... respira fundo comigo e conta até 100, vá... ;)
LOLOLOLOL...
Só tu e a tua harpa para me fazerem rir..não atiro ao ar tudo o que sou, nem nada que se pareça, antes pelo contrário, por não atirar ao ar e não perder a cor é que depois retorno à rocha mais isolada que encontro. Hoje já contei até 100 centenas de vezes e talvez deva mudar a pergunta: em vez de perguntar o que se passa com as pessoas, deva perguntar o que se passa comigo?!? :/
No ano que passou deixei de me dar com 90% das pessoas que me dava porque não estava bem naqueles contextos e hoje fiquei com a certeza que tenho de deixar os outros 10% :(
Não me identifico, não me enquadro e naõ me divirto...é a merda da mudança que tenho de finalizar e ando à procura de sinais do universo para não ser nada assim e só vem aqueles que dizem: é mesmo assim, time to move on...inspira...expira...inspira...expira...
Notas pessoais:
- A harpa está definitivamente afinada, marcar consulta de otorrinolaringologista e psicólogo para aqueles brutos e insensíveis gauleses
- A Lagarta mantém a cor verde que a caracteriza
- A Lagarta já conhecia a técnica de contar até 100, impõe-se saber se é imune a essa técnica ou se pelo contrário deverá ser aumentada a contagem para 1000
- O facto da existência de Komodoros ser bastante reduzida causa frustração, o que é natural, mas não quer obrigatoriamente dizer que o Komodoro tem que deixar de ser Komodoro.
- A Lagarta seguiu a técnica da respiração
- A Lagarta não está tão mal e errada como pensa
Boa Gaulês (risos...tipo muitos),
estou a rir-me virtualmente às 6h da manhã...definitivamente enlouqueci :P
A lagarta precisa de recolher à rocha, avaliar o que está certo e o que precisa de ser alterado.
A côr verde brilhante e bonita é algo que caracteriza esta lagarta (mesmo com 2 golos anulados injustamente :P )
Contar muitas vezes até 100 deve dar uma contagem até 1000, mas sem os numeros que vão de 101 a 999 :)
Se esta lagarta quisesse deixar de ser Komodo, já o teria feito...as especies em vias de extinção devem ser preservadas :)
Pode ser que fiquemos na mesma ala... :P
Ouch! Essa doeu, a Lagarta é... lagarta...!! (O_O) Tenho que te mostrar a Luz! :P
Muito bem, Lagarta, gostei ;)
Muito agradecida Gaulês, mas já me vais dando uma luzes :P
Dá para escolher, o Telhal e o Júlio de matos tem os melhores jardins...mas o telhal fica na serra de sintra e o julio no meio de lisboa...se quiseres inscrevo-te também, pode ser que fiquemos na mesma turma :D
Combinadissimo! E ou muito me engano ou somos coisa para dar com eles em malucos :P
O quê???? mas tinhas duvidas, Gaulês?
Um bardo louco que insiste numa especie de cantar, com uma harpa que não sabe tocar, e um lagarto komodo, a insistir em ser rosa choque e a citar confucio...olha só que belo quadro de miseria ;)
Lagarta, finalmente consigo passar por aqui e deixar de ser apenas uma leitora. Sabes bem porque, tens a capacidade de ver para além das coisas, e como dizes, estás atenta. Consegues por em meia duzia de palavras tudo aquilo que às vezes muitos precisam de páginas e páginas para descrever.
Obrigada!
Quanto aos sonhos abdicados... era bom que realmente as coisas fossem assim tão lineares. Existem alturas em que a cegueira toma conta de nós ou melhor, temos uma visão selectiva, só vemos aquilo que queremos ver.
A S. aprendeu algumas coisas... Aprendeu que tem de estar bem consigo própria, aprendeu que tem de se ouvir, aprendeu que os sonhos têm de ser partilhados, caso contrario, as duas pessoas serão infelizes, ainda que se mantenham juntas... mas isso não chega...
A S. ainda tem dias de merda, a nadar no seco, em que descompensa e pergunta "porque?"... Mas vai percebendo aos poucos que sabe a resposta, ainda que esta esteja tão lá no fundo que às vezes não é visivel nem alcancável.
Acima de tudo a S. aprendeu que aquela relação pela qual se tenha de fazer esforços diários é exactamente aquela pela qual não vale a pena mexer uma palha...
"Everywhere I'm turning
Nothing seems complete
I stand up and I'm searching
For the better part of me
I hang my head from sorrow
Slave to humanity
I wear it on my shoulders
Gotta find the strength in me
Cause I am a Superwoman
Still when I'm a mess
I still put on a vest
With an S on my chest
Oh yes
I'm a Superwoman"
S.C.
Seja muito bem vinda S.
tenho a dizer-lhe, novamente, que a senhora fez um percurso evolutivo de enorme dimensão e impacto, não só pessoal como social.
A visão selectiva é propicia ao ignorar do estômago, mas também quando se torna focalizada é porque estamos de partida :)
Minha querida S., nada no seco faz parte do processo e têm de existir para que o luto se concretize saudavelmente e se possa olhar para o lado, com nova atenção selectiva e repetir todo o processo de entrega, sonhos comuns e partilhados...e vais lá chegar mais depressa do que esperas...e tu sabes isso ;)
Toda a mulher é uma super-mulher, basta lembrar que somos as unicas que tem um cerebro Multi-task...acho que diz tudo :)
também começo a perceber que não basta sentir, que se os outros não tem a mesma atenção que nós, então temos de falar...comunicar o que o estômago sente, perder o medo de que as nossas palavras e sentimentos os magoem...aliás se sentimos é porque é real e por mais que se devie o olhar do espelho...não vai desaparecer...e o buraco vai aumentando e a distância torna-se muito grande e em presença- ir é fácil, já o retorno muito dificilmente se consegue :)
Estás num caminho seguro, és tu que caminhas e decides a direcção...sei que farás o melhor, nem que seja o melhor apenas no aqui e agora...as magoas são lembranças ténues às quais podes recorrer sempre que te esqueceres que tens um "S" tatuado no peito ;)
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