domingo, 27 de março de 2011

"Mia Couto - Geração à Rasca - A Nossa Culpa"

"Um dia, isto tinha de acontecer.

Existe uma geração à rasca?

Existe mais do que uma! Certamente!

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.

Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas

vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.

Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.

Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquer coisa phones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.

Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?

Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!

Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.

Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.

Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.

Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta.

Pode ser que nada/ninguém seja assim."

PS: Faço parte desta "Geração Rasca" que neste momento se vê à rasca. Apesar de me considerar uma afortunada, sei o que é a precaridade do recibo verde e outras inconstâncias laborais. No entanto, a mim, nunca nada me foi facultado de "mão beijada" orgulho-me de pertencer a uma "classe" que cresceu com: " sem trabalho não há mérito, esforça-te e serás recompensada e quando a esmola é grande o pobre desconfia".

Se foi certo ou errado ...' tou -me a cagar ...para mim "foi o exacto no momento oportuno."

O resto? O resto ... logo se vê!!!

Read more...

Time To Say Goodbye


É-nos difícil discernir a hora do adeus. São inúmeras as razões que condicionam/ definem o momento: a afectividade, a questão, o respeito, a perseverança ou a crença num futuro diferente. Não existe um timming perfeito, a atitude correcta ou a acção exacta. É sempre uma despedida de algo e esse algo faça-nos sofrer ou sorrir ou seja mera habituação, é-nos tão natural como respirar. Ter Fé não é tarefa fácil: existe a morosidade da inexactidão de um tempo que urge a passagem. Viver até ao fim algo que dói, é uma espécie de auto-mutilação necessária à existência: ao ser. Comparo a vida humana às marés: com hora prevista mas não exacta. Às vezes a Fé é a única coisa que resta, quase uma questão de pele. Uma escamação morosa de resultados duvidosos e imperfeitos que nos levam a ponderar se o resultado final se adequará ao que ansiamos. Nem sempre se adequa. Principalmente quando as expectativas são altas. Mas o porquê de criarmos expectativas quando o futuro não é linha recta?
Será a necessidade de controlo? A preemência de uma certeza, que potencialmente se revela incerta, mas necessária a acalmia do idealizado? Não sei. Aprendo.
Esta viagem é mais complicada do que imaginei. Exige mais introspecção do que a que disponibilizei. Não basta afirmar as vantagens de ser ou não ser, ter ou não ter: "it's deeper than that" ... está na altura de dizer Adeus. Seguir em frente. "Ouvirmo-nos e questionarmo-nos" e no fim ... no fim .... It's time to say goodbye to a bunch of bullshit ... No sorry or complain ... apenas um adeus ... como as marés que sobem e descem a um ritmo próprio, sem alarido, sem histerismos, sem se notar ... apenas porque sim ... apenas porque não resistem ou lutam .... apenas porque aceitam e se aceitam ... apenas porque abraçam o que surge no caminho tornando-o seu. Pertença. Aprende.

Read more...

sábado, 19 de março de 2011

Saber quando devemos parar ...




... não é tarefa simplista ou casual. Não existe um alarme que toque, uma cor que mude ou um sistema interno de alerta. Então como é que se para? Como é que se pára tudo em nós de forma a podermos inverter o sentido que levávamos como certo?
Não é um processo impossível mas também não tem nada de fácil, descomplicado ou rápido. Pode dizer-se que é mais uma viagem tipo A.A.: Um dia de cada vez.
É tão mais fácil queixarmo-nos e mantermo-nos numa zona de conforto onde os "certos" são todos nossos e os "errados" de todos os outros. É tão linear e facilitador de uma falsa tranquilidade atribuirmos culpas ao exterior e a quem nele habita mas será que as dúvidas desaparecem?
Queremos sempre muito mais e muito melhor, na persecução do sonhado esquecemos de olhar para o que temos entre mãos ou a nosso lado. Esquecemos de apreciar e valorizar o quanto já conquistámos, o quanto somos e quão espantosa tem sido a viagem. Provavelmente tivemos "amargos de boca", algumas vezes desiludimo-nos, outras magoamo-nos e outras ainda deixámos que algo em nós morresse. De todas as vezes que houve um revés no nosso caminho, pergunto-me, quantas parámos para assimilar o que verdadeiramente aconteceu? Quantas vezes nos demos tempo para aceitar o que nos estava a acontecer, para reconhecer o chão daquele caminho? A maioria de nós nem uma vez o fez. Continuamos, esforçamo-nos mais, lutamos, resistimos ao que nos magoa, ao que nos entristece ou ao que consideramos ser "um atraso" nos nossos projectos, sonhos ou planos. Nesta viagem, sem áreas de serviço onde se possa relaxar, vamos aumentando o vazio, o buraco no peito e a solidão acompanhada. Para os combatermos lutamos cada vez mais e a cada nova batalha nos questionamos "se a nossa vida será sempre assim?". Provavelmente será, se não tivermos a capacidade de apreciar a madrugada, um dia de sol ou o "nada" do momento. Provavelmente será, se apenas nos focarmos nos entraves que tivermos, no que não alcançamos, no que perdemos ou no que nos magoámos, sem nunca perdermos um minuto para perceber e aceitar que apesar de todos os contratempos, nos entretantos, tivemos, vivemos e conhecemos coisas únicas e raras que nos proporcionaram verdadeiros momentos de alegria e felicidade ... se lhes tivéssemos prestado atenção.

Read more...

segunda-feira, 14 de março de 2011

Coisas absurdas ...

... ditas, publicadas e feitas como se fossem coerentes.
Sou apolitica, desisti há muito tempo de tentar perceber quais as ideologias em que melhor se enquadram os meus valores, porque a determinada altura percebi que os Programas Eleitorais, são isso mesmo: programas eleitorais. Algo similares às telenovelas da TVI que apesar de durarem um par de meses, o conteúdo é vazio e para perceber o essencial bastavam três episódios: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Ambos são utópicos a diferença é que uma telenovela é anunciada como ficcional e puro entretenimento por mais estúpida que seja e as decisões que os políticos tomam para "bem da nação", infelizmente são reais e na maioria das vezes transmitidas com a devida condescendência a um povo (considerado) apedeuto. Foi o que senti hoje.
Há já alguns anos que me enquadro naquele circulo alargado de trabalhadores independentes que apesar de realizarem o seu trabalho para uma única entidade não têm direito a qualquer beneficio fiscal ou de segurança social vulgo trabalhadores precários em condições precárias, dependentes da "boa vontade".
No início deste ano os "recibos verdes" sofreram alterações que visam pressionar as entidades laborais a regularizarem as situações. No entanto, o que (nos) aconteceu foi exactamente o contrário: a prestação à Segurança Social passou para 29,6%, o que deu uma subida de escalão mas direito a ter "protecção na doença" (?!?); a retenção na fonte passou para 21,5% e o IVA a 23%. Juntando ainda a taxa de 5% que falaciosamente as entidades patronais "passam a pagar" por cada colaborador a "recibos verdes". O que no meu caso veio acrescentar-se à minha lista de "pagamentos ao Estado". No entanto, (pensando à Portuguesa) sou uma abençoada por ter trabalho. Apesar de quase pagar para o exercer!
A verborreia de hoje nasce da incredulidade perante a noticia relativa aos campos de golfe ver AQUI !!!. Numa tentativa de revitalizar a economia nacional o P.M. Engº "Sócrates foi sensível a argumentos do sector. Praticantes poderão pagar apenas 6% de imposto, em vez dos 23% actuais."

Mantenha-se e aumente-se o preço do pão e do gasóleo, dos medicamentos e cuidados de saúde, permita-se a precaridade laboral e o aumento das taxas de desemprego mas ... "Deus nos livre e guarde" de aumentar as taxas e custos das "diversões" de um circulo social afunilado e favorecido.
O que tem a sua lógica: a classe operária é em maior número conseguindo mais facilmente suportar todos estes aumentos do que a "meia dúzia" que tem jactos privados e joga golfe para descomprimir do stress do dia-a-dia (?!?).

Read more...

domingo, 13 de março de 2011

Reflexo


Poderia dizer-Te que a vida é só isto e estaria a mentir-Te. Poderia dizer-Te que em terra de cegos quem tem um olho é Rei e continuaria a mentir-Te. Seria bem mais fácil persuadir-Te que este é o melhor caminho, em vez de dizer que Te compreendo e serei paciente, no entanto, também isso seria mentir-Te. Ensinar-te -ei o que é correcto, incorrecto, adequado ou desadequado. Quais as palavras que deves empregar, como, quando e onde, como deves comporta-te e que atitudes deves ter, transformar-te-ei na pessoa correcta. O que novamente seria mentir. As melhores opções, as melhores razões, dir-te-Ei uma a uma, convicta que não errarás, que caminhas para a perfeição. O melhor para ti. Minto-te.
No dia em que me transformares no teu mapa mundo, numa cartilha de soluções inquestionáveis caminhamos em sentidos opostos. Deixarás de brilhar em mim qual luz de lamparina finando-se na ausência de combustível. Nesse dia transformámo-nos em estranhos, pois não passarás de uma projecção de perfeito idealizado, mapa mundo ultrapassado por vontades, quereres e distâncias erróneas, calculadas no sonho de um. No dia em que deixares espelhar-me, dizendo-me que sou o correcto, reflectindo-me perfeitamente saberei que mentes. Quando a palavra for continua fazendo eco inquestionável e inquebrável, saberei que me mentes. Nesse dia seremos dois estranhos que caminham na falácia, inconscientes de que é a mentira que os une. Nesse dia seremos dois derrotados de uma batalha que nem travámos. Nesse dia olharemos para trás e iremos perceber que chegámos ao fim das mentiras. Será tarde para encontrar o que perdemos e continuaremos a mentir, porque no fundo sabemos que a maior mentira foi a que permitimos contar-nos a nós próprios. Reflectidos numa superficie plano e reparamos que dá erro. Obsoleta a mentira. Transformámos o ouro em cobre, sem percebermos que era mesmo ouro o que brilhava. Nesse dia olharemos nos olhos um do outro e não mentiremos mais. Reflexo.
Acreditas em mim? Em ti?

Read more...

  © Blogger templates Psi by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP