quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Ideias

Por vezes sinto que as exigências da sociedade ocidental moderna despersonaliza as pessoas. Lembro-me de andar no secundário e os adolescentes distinguirem-se por grupos, ideologias, filosofias de vida...as chamadas tribos urbanas. Visitava outros locais e fascinava-me a diversidade. Nasci no pós 25 de Abril, todos se queriam destacar, igualar à Europa e USA. Tínhamos objectivos, sabíamos o que queríamos ser quando "crescêssemos". Uns atingiram, outros mudaram os objectivos e outros ainda estagnaram.
Hoje não o vejo, pior, não o sinto. Os valores estão fora de moda, o respeito por si e pelo outro é miragem. Nunca me passou pela cabeça tratar alguém mais velho por "tu", muito menos ser mal educada ou desadequada. Preocupava-me ser alguém, ser reconhecida como ser individual, valorizante e valorizador. Não éramos santos, bebíamos copos e fazíamos todos os disparates que podíamos mas os pais não consentiam, e isso dava gozo...era a conquista de um espaço próprio na família nuclear. Deixávamos de ser crianças, éramos adolescentes em descoberta e éramos forçados a responsabilizarmo-nos pelos nossos actos. A primeira relação sexual era idealizada, sonhada, mágica e...clandestina.
O mundo evoluiu, bem sei, mas há coisas que por mais evoluídas que sejam não satisfazem as pessoas, antes pelo contrario. Os adolescentes, sofrem a pressão de pares e a melhor maneira de a superar é despersonalizarem-se. A primeira bebedeira ocorre aos 12 anos e a bebida preferida são shots, a primeira relação sexual surge na vergonha de ser o único que ainda não vivenciou e ocorre na casa dos pais, muitas vezes, com o seu consentimento. Não há regras, não se transmitem valores e os adultos são uma espécie que existe para lhes satisfazer as necessidades. A maioria aos 18 anos não tem um projecto de vida e as amizades não perduram no tempo, variam de acordo com o momento e a necessidade. Não tem atenção, logo não a sabem dar.
Não vou generalizar esta minha visão, porque como em qualquer outra coisa, alguns são resilientes ou tem famílias contentoras. Seria muito fácil para mim compreender e aceitar esta forma de estar na vida se os visse, senti-se ou se os próprios me dissessem que estavam, que são felizes. O facilitismo cria insatisfação, nunca se tem verdadeira consciência das capacidades. Para levantar voo é preciso aprender a voar, para tal ser possível alguém tem de nos ensinar. O que é dado não é valorizado e deixa de ser um prazer para passar a ser uma obrigação.

5 comentários:

Anónimo,  22 de janeiro de 2009 às 23:45  

Dasse!! Finalmente alguém que me compreende!! Obrigado, Lagarta! LOL É que é mesmo isso tudo, impressionante!

Já estou farto de discutir isso, e sou sempre tido como velho do restelo, ou que é aquela coisa de "no meu tempo é que era", ou que sou é muito crítico, que até sou! :P

Há uma coisa interessante no entanto, na minha opinião, apesar de haver uma grande peso da sociedade na forma como influencia o indivíduo, adulto, quanto mais as crianças e jovens, sem dúvida que há uma cota parte muito grande dos pais. O que me leva a que é a nossa geração os pais de muitos desses jovens, os mais novos. E eu fazia a nossa geração bem melhor como pais, e como educadores, e mesmo analisando o contexto nacional e internacional, os tempos, as mudanças e evoluções, acho que deveríamos ser melhores pais. Perdemo-nos algures quando crescemos e tornámo-nos peças da "máquina, ou estou a ver mal, e é na sociedade e no seu misto que está a falha?

L. K. 22 de janeiro de 2009 às 23:52  

Concluis-te o meu raciocinio e opinião...que não coloquei no directo mas é isso mesmo. os pais dos adolescentes de hoje são os filhos do pós 25 de Abril, tiveram a mesma adolescência que eu, como foi possivel terem embarcado no numero de "pai amigo", como foi possivél, (des)educarem os seus filhos?? A maioria dos adolescentes vive tudo a correr, para ontem, não desfrutam, não retiram prazer das coisas. E o pior é que muitos deles já tem na sua bagagem experiências de vida que eu nunca tive, nunca passei e por mais que cresça não quero ter.
A sociedade veio enviezar algumas estruturas, mas a familiar enviezou-se a si própria...não sou melhor, nem pior mas se há coisa que toda a vida me orgulhei foi dos valores que me transmitiram, orgulho-me dos mesmos e são os que um dia quero passar :)

Anónimo,  22 de janeiro de 2009 às 23:54  

passar... ssar... ar... :P

Me 23 de janeiro de 2009 às 12:43  

Bolas.
Eu até vos dou um exmplo bastante mais "grave"... O meu.
Os meus pais andam na casa dos 50. Viveram o 25 de Abril na adolescência. Levaram com ele em cima naquela fase de vida em que a liberdade, ui, é para aproveitar.
Eu tenho uma irmã. Mais nova.
A educação que uma e outra recebeu é completamente diferente.
Disseram-me, nos tempos em que viram que poderiam (deveriam) ter feito mais pela maninha, que se a primeira tinha saído tão bem, para quê tanta "ralação" com a segunda?

Eu sei que serei uma boa mãe. Sei-o não porque sou melhor do que o resto, mas porque vejo os exemplos que por aí abundam e sei que não quero que um dia escrevam posts destes ou tenham opiniões destas em relação aos MEUS filhos.
Não sei se me fiz entender...

Toda a razão aos dois. É como eu digo, vocês são um filme que adoro ir vendo.
Beijos.

L. K. 24 de janeiro de 2009 às 02:10  

Olá Me,
pelo discurso vê-se que és pós- 25 de Abril...mas um pós não tão longinquo assim :)

os pais também se adaptaram às "novas tendências" e se criaram um filho "desta ou daquela" maneira orque não utilizar a mesma formula com o segundo?? Errado, cada ser é unico e individual, com defeitos e qualidades, tem de ser percebidos e geridos de modo a que regras e valores façam sentido.

E sei que serás uma excelente mãe, tens capacidade para parar, ouvir, operacionalizar e retribuir na medida certa :)

beijos e bom fim de semana ;)

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