quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Noite

A noite está fria. Cai uma cacimba miudinha, que molha tudo à sua volta e que gela as almas. Sente-se o cheiro da terra molhada, debaixo dos pés, a terra cede, ficando um rasto por entre as folhas caídas. As árvores despidas parecem muito maiores, aterradoras…soltam-se da densa neblina para intimidar os que deambulam na noite. Aterradoras mas a sua companhia. A lua brilha magistralmente, no alto de seu trono. Imponentemente observa quem deambula, dando alento e companhia até ao chegar da madrugada. Cada ser reinventa-se, redescobre-se, em cada minuto...relembra e pergunta-se se é lembrado. A solidão pede a mistura dos corpos, num falso suor de prazer frustrado. Acende-se um cigarro e nesse borrão sonha-se um lugar...está frio e sente-se uma aragem que ao misturar-se com as lágrimas faz desejar voltar a um lugar conhecido. O medo aprisiona... condensa os passos, em gritos que ferem a alma, de estridentes. Não ouvem? O eco transforma-se num lamento ensurdecedor, queres correr mas não consegues, respira o irrespiravél, aprisiona o sentimento...quando o sol nascer tudo passou...tudo passou.
Neste tempo e neste lugar, o sol teima em não chegar, o tempo é um tempo intemporal e o vento ri-se por entre os ramos, a noite adensa-se, condensa-se num murmúrio, num lamento, numa gargalhada…os corpos movem-se nas sombras, deslizam, arrastam-se…Passam os anos, as décadas, os séculos. Noite, após noite, a miséria humana permanece escondida, ignorada, desprezada. Mundos paralelos que se cruzam, tocam numa mesma dimensão, separada apenas pelo inicio da madrugada…O mesmo ser...Dois mundos, duas realidades a co-existirem na solidão.

5 comentários:

Anónimo,  16 de janeiro de 2009 às 12:14  

A noite é mágica, a noite guarda segredos, sonhos e desejos que o dia não compreende.

É de noite que o profundo e verdadeiro se liberta, sem receio de ser incompreendido e tornado vulnerável pela luz do dia. Sem capas ou máscaras.



Belas linhas, Lagarta, gostei muito! ;)

L. K. 16 de janeiro de 2009 às 19:23  

Brigado Gaulês,

Mais uma vez tens a capacidade de ser eco do meu pensamento ;)
...deve ser astrologico...eheheh...ou de teres o "problema das manhãs"..eheheheh

Anónimo,  17 de janeiro de 2009 às 05:12  

Pode ser astrológico, sim... mas na verdade, também pode ser do "problema das manhãs"... contudo é provável que seja da dita magia da noite :P

L. K. 17 de janeiro de 2009 às 12:09  

Bem visto ;)

Vem de acordo com a ideia que sempre tive: quem vive (bem) a noite tem uma perspectiva diferente das coisas.

Na minha terra as pessoas da noite usam duas expressões:
"de noite todos os gatos são pardos"

"Não conheço cabrões à meia noite"

Anónimo,  17 de janeiro de 2009 às 15:03  

A primeira expressão conhecia perfeitamente, a segunda é a primeira vez que a "ouço"... database updated :P

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