terça-feira, 31 de março de 2009

Aborrecida II

Há dias assim. Dias escuros sem se saber porquê, sem se perceber porquê. Nada corre mal, antes pelo contrário, bebe-se café e actualizam-se conversas. Deambula-se pelo dia com uma angustia de insatisfação que nem as gargalhadas aliviam. Não nasci para estar desocupada: aborrece-me, chateia-me, chateio-me e nada me interessa...nem passear. Supostamente estou de férias para descansar e já estou farta. Talvez esta seja a única coisa que ainda não consegui perceber neste meu modo de funcionamento. Será que é o facto de sentir ausência de responsabilidade, de não ter horários apertados e um stress continuado de falta de tempo e imensa coisa para resolver??

Verdade seja dita que também não me apetece fazer nada. Podia ir para o ginásio, ler, caminhar, passear, ir à praia...Foda-se, posso fazer o que quiser e não me apetece fazer nada. Nem gastar dinheiro.
Quando estou assim, neurótica, lembro-me de quando era miúda e começava a brincar com qualquer coisa, para passados 5 minutos estar a dizer:
-"Oh mãe e agora? Já brinquei com isto e agora faço o quê?"
-"Filha faz um desenho"
-"Também já fiz isso e já pintei e agora?"
-"Vai ver televisão, vê o que é que está a dar."
-"Também já vi televisão."
-"A mãe joga contigo monopólio."
-"Já jogamos há bocado...já fiz tudo e agora?"
-"Agora arranjas qualquer coisa para fazer e depressa antes que eu me passe."

E todos os dias era este filme, a minha mãe hoje ri-se quando conta isto mas duvido que na altura isto não a tira-se do sério...até a mim me tira e já sou crescida. De acordo com a minha mãe sempre fui assim desde tenra idade, por isso assim que tive idade deixaram-me ir trabalhar e estudar, acalmou-me.

Talvez deva tirar uma formação sobre: "Como não fazer nada e aproveitar, em períodos considerados longos e de inércia."

Não me assusta envelhecer, assusta-me não ter nada para fazer. Não conseguir fazer nada e sentir-me no apeadeiro quando o mundo passa na estação central. Talvez seja o próximo traço de personalidade a necessitar ser operacionalizado, sistematizado e reduzido a uma insignificância que não incomode...apenas exista e transformado em mais valia.

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