"O dia mais feliz" (?!?)
7:30 am...
Sábado...
Toca o despertador...
Levanta-se de um pulo e corre para a minha cama:
- Vou agora para o cabeleireiro. Queres ir ou que meta o despertador?
- A que horas é o casamento?
- Ao 12h mas ainda vamos buscar a R. e temos de estar às 10h na casa da noiva para as fotos.
- Ahh..está bem...então mete o despertador para as 9h e dá-me 1 toque, para ver se acordo.
- Só te vais levantar às 9h? Mas não vais tomar banho ainda e pentear-te e pintar-te e vestir-te? E ainda tomas o pequeno almoço em casa? Não estás enervada?
- Estou porque tu não te calas e não abalas. Tenho muito tempo.
Às 8h50 toca o despertador. Acordo e ... adormeço novamente. A M. dá um toque tão longo que me obriga a atende-la. Irrita-me acordar, mais ainda que me acordem e com o telefone então valha-me a Santa. Acho anti-natura.
Às 9h resolvo arrastar-me para fora da cama, ainda que a muito custo mas não é a minha casa e ela deve estar a chegar enlouquecida por lá estar desde as 8h da manhã.
Ligo o rádio alto, porque gosto de o fazer mal saio da cama, dirijo-me à cozinha e preparo um bom pequeno-almoço. Não suporto fazer nada antes do pequeno-almoço que tomo em silêncio e a anos luz do sitio onde me encontro. Mais animada. Let the day begin!!!!!
28º centigrados...derreto-me...não me apetece vestir mas sim despir e ir até a praia. Resolvo abandonar este pensamento ou a manhã será de mau humor...duche...sim é isso, refresca-me e adianto-me.
9h20 entro na banheira e sabe-me tão bem...após tão necessitada e desejada banhoca começo a pentear-me (17 anos de teatro tem de me servir para alguma coisa) e que porreiro fica. Gosto de apanhar o cabelo e ficar com ar de espanhola. Fácil, elegante, barato e não preciso levantar-me 2h antes. Perfeito.
Maquilhagem. Simples e discreta, ás 10h da manhã seria saloio carregar nas cores e riscos. Apenas base, rímel, risco preto, blush e voilá, fantástica e económica e sem ter de acordar de madrugada, sem me chatear com uma qualquer excelente profissional que cumpre a sua função mas que temos gostos diferentes. Calço as meias, porque não basta ser, há que parecer e por fim visto o meu lindo vestido verde (claro!!). Pronta. Posso ir-me embora.
10h30 - chega a M. esbaforida, enlouquecida e a gritar que está atrasadissima, ainda não se vestiu, não tomou o pequeno almoço e já não vai chegar a tempo da foto com a noiva (?!?). E ainda tenho de a pintar. Começamos por aí e o resto desenrolou-se de maneira escorreita. Apanhamos o filho dela, a nossa amiga e às 11h40 estávamos na casa da noiva.
Gentilmente o fotografo (mesmo fazendo o reparo do atraso) lá fotografou as minhas amigas com a noiva. Ficaram bonitas. Valeu o esforço e a corrida.
Saída para a igreja onde chegamos atrasadas, como dita a lei da boa noiva. A cerimónia foi fantástica: sucinta, fluída e objectiva. A noiva chorou que se desunhou e a M. acompanhou-a, não por solidariedade mas por recordações que ainda são feridas mal cicatrizadas. E porque a puta da música de entrada na igreja era igual a sua. Lado positivo: mais um avanço no luto da M. Vai ficar bem, não tenho dúvidas.
Uma quinta que era um espectaculo e digna de contos de fadas. Hora porreira: 13h30 - iniciam-se os aperitivos.
14h00...
37º centígrados, estrelam-se ovos nos capôs.
As senhoras estão descompostas e com ar suado.
Os senhores destilam debaixo dos casacos e as criancinhas começam a ficar impacientes de estar a assar...e de serem crianças enclausuradas num espaço e evento de adultos.
Inicia-se a sessão fotográfica pré almoço. Não fui. Não me mexi da sombra, não dei um passo. Não tenho registos para a posteridade...mas também não fiquei com um escaldão, como a M. e a R., nem com os pés assados como a B., estava como sai de casa. Porreira...pronto vá lá, toda suada e a derreter-me e a pensar que se todo aquele calor derrete-se gordura interna tinha vindo do casamento a Olivia Palito...não aconteceu...
Almoço...iupiupiupiupiupi...são 18h30. Felizmente daqui a 1h30 abrem o copo de água....
Feitas as contas os noivos passaram 6 horas do dia mais feliz das suas vidas (que é assim que se referem a ele) especados em não sei quantos lugares a tirar fotografias de empreitada e a ouvir: "agora a darem a mão", "agora finjam que se beijam", "agora ela finge que foge", "agora ele finge que vai embora", "agora os padrinhos, agora as tias, os primos, a avó, a vizinha, a amiga da mãe e a vizinha da avó"...nas escadas, na piscina, na varanda, na mesa...aqui, ali e acolá e por fim as criancinhas cujos os pais queiram posteres individuais que aguardem no jardim e lá vai mais 2h do dia mais feliz das suas vidas em que até para mijar é preciso pedir licença ao fotografo. Talvez um dia, quando for eu mude de ideias. Apesar de não ir ter fotografo "tradicional" e não abrir mão disso porque me aborrece que me aborreçam logo não me vou aborrecer a mim própria: iniciaria com o sorriso 33 e acabava já de beiço e trombas...ná, não me parece e até porque FALTA ESPONTANEIDADE num dia que é suposto ser nosso, sermos, estarmos felizes. Partilhar e partilharmo-nos com quem fizemos questão de convidar para partilhar o dia.
Não sei, é a minha opinião, mas alguém perde tempo a ver as fotografias de casamento com o decorrer dos anos. Eu nunca ouvi falar em ninguém que tenha o hábito de o folhar para recordar, a não ser numa pré ou pós catástrofe...ou também se pode dar o caso de não conhecer pessoas normais, ou suficientemente românticas....seja como for, para mim o "dia mais feliz da minha vida" só o pode ser se o gozar em liberdade, se o meu tempo for espontâneo e as acções também. Isso é ser feliz. Vir de dentro. De mim. Porque quero e num tempo imprevisto.
Apesar de tudo foi bastante divertido e gostei. E Acredito que é até que a morte os separe...seja a morte daquilo que for.
2 comentários:
... seja lá a morte o que for!
Nem mais Gaulês ;)
Não existe pior morte do que aquela que nos mantem vivos!!!
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