terça-feira, 23 de junho de 2009

Dessensibilização Sistemática

Nunca voltes a um lugar onde foste feliz.

A sabedoria popular designa que os lugares dos quais temos boas memórias, ainda que desactualizadas, sejam mitificados e protegidos de novas memórias associadas. Nunca liguei a isso. Não são os lugares que me deixam as memórias mas sim os envolvidos, o lugar apenas calhou a ser aquele como poderia ter sido outro qualquer: um jardim esculpido ou um terreno rochoso, teria exactamente o mesmo efeito e deixaria memórias doces e de suspirar. Foram os sentimentos que o tornaram mágico, nada mais. Até porque como costumo dizer, já chorei muito num hotel de 5 estrelas e já fui estupidamente feliz a fazer campismo. Como em tudo: não eram os lugares mas as pessoas, os intervenientes e o modo se olhavam e olhavam o circundante. Regressei a todos os locais onde fui feliz, não me deixam nostálgica e quebro o mito. Dou-lhes o lugar que têm e merecem. Locais que me agradam, me agradavam e continuaram a agradar. Afinal sou a mesma e o meu amor por mim não se alterou. O mesmo se passa com as músicas que um dia me ligaram a outra pessoa. A maioria já eram da minha escolha, apenas surgiram num timming que contextualizou um momento a dois, daí ser simbólica dos sentimentos entre duas pessoas. Retiro-lhes igualmente esse valor e novamente não me sinto saudosa, nostálgica ou triste. Nada. Rien du rien. Nadica de nada. Nothing...zero...apenas música que já gostava, gosto e continuarei a gostar. Nem necessito de retirar nada à música porque pertencem apenas a um período da minha historia pessoal e essa não quero, nem nunca quis apagar. É como a nossa camisola favorita que apesar de não vestirmos à 10 anos, não estar na moda e já não nos ficar bem, continuamos a guardar e todos os anos nas limpezas de verão quando a descobrimos dizemos: Ihhhhh ... nem me lembrava já desta camisola sempre foi a minha preferida. Não a visto há anos mas deixa a estar. As recordações são isto, nada mais. Sabemos que existem, não remoemos, não incomodam mas de vez em quando lembramos que existem e que houve um afecto associado, que tal como a camisola: passou de moda, já não nos faz sentir bem. Todas as músicas que um dia estiveram associadas a momentos a dois tenho em CD, andam comigo no carro e tocam sempre que me apetece e sem me deixar de humor deprimido ou nostálgica, antes pelo contrário: lembram-me sempre que a etapa que ai vêm será muito melhor que a anterior, irei aprender coisas novas e servir-me sabiamente das que já sabia. E as que não me servir é porque estou bem como estou. O amanhã será sempre melhor que o hoje e o ontem porque o esperamos e sonhamos mas o agora também têm a sua magia até quando me custa a perceber qual é, rapidamente descubro que foi mais um dia que atravessei com saúde e o melhor de mim: os meus. Por vezes tenho dificuldade em manter a Fé nos níveis indicados de cor, não por questionar o que Ele me designou mas por estar cansada, sentir-me um forcado da cara que já lá foi 6 ou 7 vezes e sabe que o que o espera é a cernelha. E disto isto: Here I Go Again.

3 comentários:

V!tor 25 de junho de 2009 às 18:26  

As pessoas mitificam locais, objectos, cheiros até mesmo momentos não pela forma como neles foram felizes, mas por esperança que neles possam voltar onde já estiveram.
É uma forma habitual de não querer perceber que o passado ficou onde devia. Uma última réstia de esperança.
Uma forma triste de não se viver o presente!

L. K. 26 de junho de 2009 às 19:16  

Sinto que o fazem por ser mais fácil...apenas se esquecem que podem nunca mais regressar a certos locais, nunca mais ouvir determinada música, usar "o" perfume e outras coisas similares...mas as suas lembranças, recordações e saudosismo serão sempre uma "viagem" garantida, que mesmo sublimada será tóxica à vivência do presente.

Não é fácil resolvermos em nós tais "lembranças e associados" mas também não é impossivel e eu detestava ficar condicionada em merdas que não tem razão de ser. até porque que acredito que no momento presente essas duas pessoas se unissem novamente e regressasem aos "sitios e musicas e etc" já não saberia ao mesmo, ou seria sequer similar...evoluimos, transformamo-nos, apesar de não deixarmos de ser quem somos, uma coisa é certa também já não somos a pessoa que esteve da 1ª vez, aquela que deu origem ao mito.

Se a esperança é voltar ao passado, então são poucachinhos...respeito mas acredito nos designios divinos e se não funcionou, não irá funcionar porque poucos ou nenhuns são aqueles que tem a capacidade de superar as magoas e recomeçar do zero.

Anónimo,  30 de junho de 2009 às 11:28  

Eu penso que as pessoas o façam pela esperança de voltar a sentir o que esses lugares, músicas, objectos, ou o que seja, já os fizeram sentir... ainda que às vezes esse "já o fizeram sentir" seja a posteriori, depois de olharem para trás e sentirem o que foram na verdade esses momentos.

Mais que não seja por o meu signo, ser de renovação, transformação e renascimentos, acredito que isso pode acontecer com as pessoas, e também com as relações, mas também acredito que não acontece, verdadeiramente, na grande parte das vezes.

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