domingo, 6 de junho de 2010

Pseudo modernices

A maioria das pessoas afirma-se evoluída, acima de estereótipos e outras mesquinhices. Uns liberais adeptos das minorias, da liberdade de expressão artística, de género, sexual e social. Somos todos uns modernaços, o casamento pela Igreja é fatela e ter/ ser praticante de uma qualquer religião divide as pessoas em dois grupos: ridículos ou snobes. Gostamos todos muito de literatura, de teatro e ópera no S. Carlos, aos fins de semana passeamos em Sintra, no Parque das Nações ou em qualquer outro sítio moderno-rústico. Adoramos animaizinhos e é tão in mostrar às nossas criancinhas como são esses mesmos bichinhos no seu habitat natural, longe da tirania gradeada do Jardim Zoológico de Lisboa, então ao fim de semana rumamos ao Badoca Park ou ao Monte Selvagem em Lavre. A nossa alimentação é cuidada e tornamo-nos adeptos tacanhos da alimentação biológica, como as saladas do MacDonald's - seleccionadas pelos melhores produtores. A carninha é certificada, vem no pacote, as vaquinhas e os porquinhos são criados em "ambiente controlado" - presume-se que tivessem ar condicionado e Tv cabo, porque se sabe que animais sujeitos ao stress dão carne de menor qualidade (?!?). Somos tão modernos que ninguém é racista, "porque até há lá no meu trabalho um preto com quem me dou muito bem", ou xenófobo, porque "o filho do vizinho Zé Manel é paneleiro mas nunca se meteu com ninguém". Somos humanos e humanistas, contribuímos para o Banco Alimentar porque "os desgraçados estão mesmo prostrados à saída do hipermercado e um gajo até se sente mal de não dar nada". Acreditámos num mundo de iguais, com respeito mútuo, idoneidade nas acções e coerência no discurso...desde que tudo isso seja longe da nossa porta, da nossa casa e dos nossos amigos, conhecidos ou familiares.

Somos um país de pseudo-modernos que consegue catalogar alguém na baixa infância, que atribui epítetos aos diferentes, e se orgulha disso. Somos o povo que "acha que a galinha da vizinha é sempre melhor do que a sua" - e compete com isso. Somos o povo que se arrasta em más decisões e as consegue justificar no encolher de ombros, no fundo somos o povo que acredita que "tudo o que parece é"... no fundo falamos muito, agimos pouco e normalmente o que falamos e o modo como agimos são dissonantes...mas no fundo, no fundo...lá bem no fundo, num sítio em nós pequenino e remoto somos todos muito modernos e open minded...desde que não seja connosco...ou perto.

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