Formação
Não gosto de dar formação a adultos. Falta-lhes plasticidade mental, o medo tolda-lhes a capacidade de transformação estão "moldados" a um conhecimento prévio que adequam aos seus dias e fingem-no verdades absolutas e inquestionáveis. É mais fácil.
Há uns tempos falava com uma amiga que numa destas formações a adultos sobre Igualdade de Género se degladiou com um Srº Muito Macho e muito ciente da sua condição e direitos (de macho) levando a uma queixa contra ela. O que me leva a concluir, que salvo raras excepções, a maioria das pessoas estão nas formações por imposição ou necessidade laboral e não por necessidade interna de aprofundar e alargar conhecimentos.
Dar formação ou acções de informação/ sensibilização a adolescentes (15/20 anos) é uma coisa que me dá um tremendo de um prazer e que me diverte. As formações são activas e interactivas, não há medo do ridículo , não há um estereotipo de "a idade é um posto de saberes" e existe uma plasticidade mental que conduz não só ao Insight mas também ao questionamento despretensioso e interessado. Gosto de começar as formações com um levantamento dos conhecimentos prévios dos indivíduos acerca dos assuntos e dai partir para os conteúdos programáticos planeados. Aborrece-me aquela atitude soberba de : está a ser paga para nos dar informação logo não tenho de saber, nem responder. Não vim aqui para pensar porque é a si que lhe pagam para isso...isto seguido de: ouça sou professor (a) há 30 anos sempre soube fazer o meu trabalho e já era assim, ainda você não tinha nascido eu já falava sobre estas coisas.
O que demonstra a incapacidade da maioria dos indivíduos de lidar com o novo ou com o velho reformulado. O medo.
Os crescidos tem medos maiores que os adolescentes, tem medo de saltar no vazio de perder as suas verdades absolutas e incontestáveis. Ficam à deriva. Perdidos.
Também tenho medos. São adaptativos quando saudáveis e pontuais. Quando não interferem com a vida dos indivíduos e lhes permitem ter certezas relativas. A verdade é relativa porque o conhecimento é evolutivo. É necessário ter consciência critica de modo a equacionar toda a informação absorvida e transmitida e ter a humildade de adequar os esquemas há medida que temos nova informação. É preciso não perder a "idade dos porquês", a criança curiosa e questionadora que existe em nós. A humildade de admitir que não se sabe, até se necessário escudando-se na atribuição de culpa externa: é por isso que vim à formação porque não tinha conhecimento suficiente sobre alhos ou bugalhos.
A culpa não é dos adultos nem dos adolescentes. Temos um sistema de ensino que assenta na cultura Judaico-Cristã e que não permite o desenvolvimento de consciência critica. Desde que existe um sistema de ensino obrigatório e acessível a todos (???) que os alunos são ensinados a absorver a informação transmitida, sem questionar o professor e assimilando as suas palavras como verdades absolutas e inquestionáveis. Por isso é frequente alunos de origem Inglesa ou Alemã com frequência de escola no país de origem chegarem às nossas escolas e reprovarem ou terem notas mínimas para passar. Isto porque a pessoa que se licenciou em Inglês na Universidade de Ciências da Educação em Lisboa e que nunca visitou um país de origem Inglesa ou residiu lá não suporta a afronta de ter alguém a ser melhor. Mas também não compreende que o seu filho ao frequentar a escola Portuguesa noutro país também não seja bom aluno na disciplina. Chama-se arrogância que é o argumento do ignorante.
Nem todos os adultos são estáticos nos seus esquemas mentais e nem todos os adolescentes tem sede de informação, no entanto a experiência demonstra-me que é mais fácil aguçar a curiosidade dos adolescentes ao apelar à sua consciência critica, ao valorizar os seus pensamentos e ideias, mesmo que incorrectos ou menos correctos. Fá-los sentir importantes, com atenção e valorizados. São as bases familiares que lhes faltam para colmatar a acomodação e desenvolver o espírito critico construtivo.
Agora vou preparar a minha formação para professores que será exactamente...Amanhã :(
9 comentários:
ai vais dar formação a professores???
:)
Good luck!
Nada contra esse pessoal, apenas prefiro não os ter por perto.
:)
(e se fizerem queixa contra ti, aproveita a fama e arreia mesmo em alguém)
Olá Lizard
Os medos foram-nos incutidos fundamentalmente pelos nossos pais. Obviamente que acredito, que o fizeram sempre pelo nosso melhor, e pelo que eles julgavam ser o padrão correcto de funcionamento. Mas numa idade por exemplo de 6 anos, frases simples como "cuidado que cais" ou "não brinques na rua sem casaco porque te constipas, têm o poder de "codificar" a nível subconsciente todo um "programa mental" na criança que fica instalado para o seu futuro. A partir daí, é como um ciclo vicioso, quanto mais situações que causam o despoletar de algo desconhecido, mais a pessoa tende a reagir com base nesse "programa". A nível inconsciente: situação semelhante, comportamento instintivo semelhante. Também nos "ensinaram" que fazer as coisas de forma diferente, está errado. Mas fazer as coisas de forma diferente não está errado, é apenas uma forma de produzir resultados, também diferentes. Como dizes e bem, é admitir uma outra amplitude e uma outra perspectiva das coisas. Esquecer "hábitos" velhos é custos, especialmente quando há uma série de condicionamentos mentais por detrás. É por isso que os tais professores de 1900 e troca o passo, se manifestam perante alguém que lhes demonstra as coisas num registo que lhes é estranho. Por arrogância, por medo, por falta de humildade, por "vergonha" ou até mesmo comodismo. O medo há-de conseguir sempre os seus propósitos, que é estagnar o individuo que o sente. Curioso é que na maior parte das vezes, somos nós que os proclamamos. Nós escolhemos senti-lo. Num curso que fiz, o orador fez referência ao medo como sendo em determinados aspectos, uma forma de demência. Porque acreditar num medo, é acreditar numa coisa que não existe. Deu como exemplo, pessoas que vivem com a fobia de andar de carro por causa dos acidentes. Ora o medo é tão grande, que são capazes de deixar correr nos seus pensamentos de forma tão intensa, a ideia de que vai acontecer um acidente qualquer com elas. Por vezes sucumbem e nem sequer se deslocam. Acreditam em algo que ainda não aconteceu e que muito provavelmente nem acontecerá, uma coisa portanto, que ainda não existe. Aprendi desde lá para cá, a substituir os medos pelos desejos. Se me surge a ideia do acidente, contraponho com o desejo de chegar a são e a salvo ao destino. Tudo depende onde nos focamos. AINDA, não é fácil, mas treina-se. Tenho vivido assim a minha vida, e lá está, tenho obtido outros resultados. É só a minha opinião e vale o que vale. Não estou cá para tentar convencer ninguém de o que quer que seja. A diversidade de pessoas, inspira-me.
Excelente a tua partilha. Boas formações, então.
As condicionantes do que é a pessoa em si, das pessoas que mais peso tiveram na sua educação e formação como pessoa, das suas experiências e vida...
Acho que na maioria, quanto mais o tempo passa, mais condicionantes limitativas há, e mais peso elas ganham também.
Ainda bem que não somos todos iguais ;)
Vai correr bem, estou certo, mas ainda assim, boa sorte, Lagarta!
yeah, yeah, yeah. isso é tudo muito bonito.
adultos em formação, com excepções, claro, não gostam é de ter alguem que saiba mais que eles sobre um determinado assunto (mesmo sendo essa a lógica da formação - vou porque não sei...). sentem-se incompetentes, rejeitam. simples (tirando as excepções, claro).
É mais ou menos isso.
Gugu dádá? :P
Me,
a classe dos professores é tão frágil como qualquer outra que pretensamente domina "verdades" e tem a responsabilidade de a transmitir...Haja paciência para conseguir quebrar as barreiras de mentes mentecaptas...lolololl...mas apesar de tudo estou tranquila: gosto do assunto e domino-o...o que não souber apenas quer dizer que na proxima formação haverá mais informação a ser acrescentada e que foi este grupo que ficou com a lacuna...ihihihihihi
Lorenzo,
o medo é adaptativo e pode salvar-nos a vida. Se não for em excesso, vulgo hiper-protecção frases ditas a crianças como:"cuidado que cais" ou "não brinques na rua sem casaco porque te constipas"...servem para diminuir a impulsividade ordálica e para prevenir que fiquem com o sindrome da imortalidade e da impunidade. Como em tudo são os excessos que prejudicam e nesse caso concordo contigo quando dizes que os medos passam a estar codificados na cabeças dos miudos e os acompanha.
Na infância o medo praticamente não existe, as crianças são curiosas e exploradoras e arrisacm-se no desconhecido inconscientemente. Há medida que crescemos tornamo-nos mais cautelosos, responsáveis e perdemos a impulsividade e expontaneadade o que tem a ver também (mas não só) com as responsabilidades que temos de cumprir e os deveres que temos de assegurar. Lembro-me que há uns 8 anos atrás fazia directas durante a semana e ia trabalhar sem me preocupar com mais nada...hoje não faço isso tantas vezes e quando o faço penso antes de fazer o que agendado para o dia seguinte porque existem pessoas cuja vida depende de mim e tenho de ter o cerebro fresco e perspicaz para resolver qualquer situação ou pelo menos este pensamento ajuda-me a desculpabilizar-me se algo corre menos bem :)
Os esquemas mentais quando aliados ao medo tornam-se inflexiveis e na maioria das vezes isto surge da nossa educação, ou melhor, do nosso sistema educativo que ensina por reptição/memorização, que os mais velhos sabem sempre e escudam-se na experiência laboral como posto merecedor de credibilidade inquestionavel e não por desenvonvimento de consciência ou raciocinio critico deste modo ao aceitar as coisas como verdades absolutas e não relativas torna-se assustador mudar os esquemas mentais. Porque até para o fazer é preciso ter a humildade de reconhecer que se está menos correcto ou errado mesmo ou mais ainda desactualizado. Neste país também não somos estimulados para fazer reciclagem de conhecimentos e há gente a trabalhar com coisas desactualizadas há 20 anos. Infelizmente os professores são uns deles que apesar das novas directivas apenas aplicam aquelas que contam para avaliação mas que nos seus esquemas mentais não assimilaram ainda que os adolescentes de há 20 anos são diferentes dos de hoje com interesses, familias e maneiras de estar também diferentes...Felizmente não são todos a serem assim e també, há uns tansos que sairam agora da faculdade e ainda acham que dão aulas em 1972 :/
Os medos como "forma de demência" são as fobias e os ataques de pânico e são originados por medos incontrolaveis mas não são mais que um mecanismo de defesa que o organismo arranjou para superar determinadas coisas ou acontecimentos que causam sofrimento aos individuos. Quando estas situações despoeltam é porque o individuo se deixou dominar a si e à sua vida pelo medo e torna-se patologico.
Também sou uma crente, de pensamento positivista dominante...apesar de ainda não ter atingido os 80% sequer mas trabalho-me todos os dias nessa direcção e ACREDITO que lá chegarei...até lá e como bom Touro que sou e assumindo uma certa (mas pouca) teimosia tento evoluir nas minhas certezas relativas ;)
Gaulês...correu estrondosamente bem e tens toda a razão. As pessoas que nos passam a educação/formação são condicionantes das mesmas em nós. Podemos não fazer igual porque assim o decidimos mas sairá semelhante porque as bases estão lá. Até na coisa mais simples e estupida se nota isso, mais que não seja nas semelhanças de atitudes e comportamentos e se não fazemos similar aos educadores principais é porque a nossa linha de orientação foi alguém que nos marcou positivamente.
Os medos são condicionantes da aprendizagem quando excessivos, o orgulho exagerado é um dos principais condicionantes e é preciso muita coragem e humildade para dizer "não sei tenho de procurar mais informação"...é o tal olhar da crinaça..Gaulês...o teu GUGU DÁDÁ :P
Me...esse comment não era para mim...mas concordo: adultos em formação odeiam que alguém saiba mais que eles, o que às vezes nem é verdade sabe-se apenas de maneira diferente e revisat de acordo com as novas descobertas e linhas orientadoras por isso é que se fazem formações de coisas sobre as quais as pessoas já se licenciaram há 50 anos...certo???
Bolas será que esse pessoal nunca pensou nisso???
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