sexta-feira, 17 de abril de 2009

Sociedade Moderna (?!?)

Excelente debate o de hoje na SIC - "Filhos do divórcio".
Gostei particularmente das opiniões e intervenções da Drª Ana Sampaio e da Drª Maria Gameiro. A primeira por finalizar o mesmo com a necessidade de se dar "voz e ouvidos" às equipas de terreno...a segunda por ter um discurso que sugere conhecimento de terreno.

Hoje foi aprovada uma nova lei de regulação do poder paternal partilhado que dá igual hipóteses de guarda e simetria temporal da mesma a ambos os progenitores. O focus do debate incidiu sobre o facto de os pais não conseguirem a custodia das crianças, sendo a mesma atribuída às mães com base no pressuposto que são as figuras cuidadoras primárias e que já vem equipadas com uma espécie de GPS no que concerne à educação/ formação dos menores.

Os juízes tomam decisões de atribuição de poder paternal baseados na sua imparcialidade e conhecimentos teóricos, mas levando em atenção consideração a opinião de alguns técnicos especializados que "pesquisam" as condições de parentalidade, sócio- económicas e alienamento prejudiciais ao bem estar do menor (?!?).
Ora pois bem, esta posição do excelentíssimo srº Juiz é deveras curiosa, exactamente por ser irreal ou melhor dizendo falaciosa - as "pesquisas" quando existem derivam de relatórios de técnicos afectos ao menor por solicitação de um dos progenitores ou por denuncia de maus-tratos realizada por quem se apercebeu dos mesmos. É salvaguardado o bem estar da criança presumindo que será com a mãe e é atribuído ao pai um valor de pensão de alimentos. Vejo-o diariamente...infelizmente para mim.
Se aumentou o pedido de poder paternal por parte do pai não posso afirmar ou infirmar pois não conheço nenhum estudo empírico realizado em Portugal, mas se assim é não poderia concordar mais - Parir é dor, criar é amor. A minha realidade mostra-me diariamente o contrário, abandono. Não só do pai, apesar de ser o mais normal mas também da mãe.

Nos últimos anos alteraram-se os paradigmas sociais, o que de origem à mudança dos papeis sociais. Consequentemente perdeu-se o estruturalismo social que assentava em hierarquias familiares e sociais constituídas por valores e normas comuns a todos. O pai perdeu o seu papel de figura de autoridade e cuidador do lar porque um ordenado não alimenta tantas bocas, a mãe para contribuir para a economia familiar relegou nas creches, amas e infantários o seu papel de cuidadora primária, bem como o seu lugar na educação/formação dos menores. As horas laborais aumentaram exponencialmente devido à necessidade de se aumentarem os rendimentos e os horários passaram a ser rotativos, por turnos e incluem fins de semana. Entramos na época do capitalismo e consequentemente na cultura do materialismo e afirmação de status pelo mesmo. O tempo que se passa com as crianças é tão pouco que não há coragem para as repreender, para as frustrar, para ensinar o adiamento da gratificação e o reconhecimento do outro enquanto ser individual que merece respeito e equidade de tratamento. Perde-se o tempo para os filhos, então é porque o tempo de casal há muito não existe.

O indivualismo e arrogância de vazio dos indivíduos é tão grande que não se tolera nada ao outro. Não se tem um parceiro para partilhar e amparar mas para competir, o mesmo em relação aos filhos: não dispensam 10 minutos a jogar à bola mas perdem 2h no centro comercial à procura dos ténis da marca "x ou y" porque não são menos que o filho do vizinho. Ao fim de um tempo de vida conjunta apenas coabitam dois estranhos com algo em comum: filho(s). Alguns tem o discernimento de acabar com a batalha campal e seguir caminhos separados mas com a manutenção de um bem (maior) em comum, outros nem por isso - as contas não permitem a saída de nenhum mas...mais vale um bom casal separado que um mau casal junto. Quando a decisão é tomada e salvo raras excepções está implícito que o menor fica a cargo da mãe e passa a ser usado como joguete na relação de adultos. Sempre aconteceu em menor ou maior escala apenas variando nas nuances.

A experiência que tenho é de trabalho à qual alio a minha opinião, e reforço que é única e exclusivamente a minha opinião de acordo com as vivências laborais.

Se há 30 anos quando um casal se divorciava estava assumido que a mãe ficava com os filhos a seu cargo e o pai se tornava ausente e distante, há 20 anos iniciou-se a guarda conjunta em que, implicitamente, também estava assumido que a mãe ficava com os filhos mas os pais podiam usufruir de tempo com os mesmos de 15 em 15 dias...o que se tornava espaçado e amiúde até desaparecer quando (re)construíam família. O objectivo não é a generalização comportamental mas infelizmente é a maioria é para efeitos estatísticos é essa que conta e é devido a essa maioria de comportamento abandonico da figura paterna e da presunção de que a mãe é cuidadora por excelência que "nasce" a lei aprovada hoje e com a qual concordo em absoluto: a guarda deve ser partilhada e consensual em beneficio das necessidades do menor tendo em vista o seu desenvolvimento enquanto ser adaptado social e emocionalmente, ou seja, o papel de encarregado de educação deve ser atribuído ao progenitor que não use o alienamento familiar para manipular o outro, salvaguardando deste modo o equilíbrio e desenvolvimento harmonioso do menor.

Desejo que cada vez mais homens peçam a custodia dos seus filhos e os assumam a seu cargo, porque cada vez me assusta mais assistir a situações como as que se tem tornado banais desde o inicio de 2009: os pais juntos ou separados a pedirem a retirada para casas de acolhimento dos filhos e com justificações tão imbecis como: "não me entendo com ele/a"; "já não faço nada dele/a, só me dá é problemas" e a melhor para mim foi no dia em que ouvi "agora cada um de nós tem uma família nova e a Y não se está a adaptar então achámos que era melhor entrega-la a um colégio"...

Será a Y que não se adapta às novas famílias ou serão esses novos lares que não a estão a fazer sentir-se como pertença, amada e desejada?
O egoísmo e alienação social mortificou valores estruturantes para dar lugar a uma sociedade "fast-food" em que numa primeira fase os idosos se tornaram descartáveis e criaram-se depósitos para esperarem a morte e neste momento são os filhos que são descartáveis e são colocados em depósitos para que se recomece a vida do "zero" sem attachments, obrigações ou prisões...A partir do momento em que o menor entra num centro de acolhimento já nada liga aqueles dois indivíduos...a responsabilidade passa a ser do estado e eles...solteiros e livres novamente: reconstroiem a sua realidade.

Como é que se constroi um prédio começando por fazer o 1º andar?
Como se vive na ausência de valores tão básicos como o Amor?

Acho que não estou a conseguir adaptar-me a esta sociedade...melhor...Não Quero!!!!

9 comentários:

Anónimo,  17 de abril de 2009 às 10:11  

Como escreves bem, e sabiamente, Lagarta!

Fomos com o tempo mudando as regras e os valores, sem dar conta, ou dando conta mas não a devida importância, tornamo-nos cada vez mais numa sociedade de "cada um por si", e quando isso chega ao ponto de contar até para os filhos, é o claro sinal que atingimos pontos bem preocupantes...

A forma como o "casal", o relacionamento conjugal e com os filhos, e como tudo isto se insere e é visto na sociedade atinge cada vez mais, e não só em quantidade, proporções bizarras... demasiado.

Não me revejo em muitos aspectos desta sociedade e também não me adapto, e ainda bem, porque... também não quero!

É bom saber que não sou o único! ;)

Me 17 de abril de 2009 às 12:08  

Ai do que tu foste falar...
As queridas Mãezinhas separadas/divorciadas/whatever que ficam com a guarda dos filhos e que a muito custo (no geral) os "permitem" ver o Paizinho querido de quinze em quinze dias são as primeiras e últimas a fazer dessa relação e situação toda uma guerra em que a cabeça e coração da criança são os únicos alvos e, simultaneamente, armas. São elas que passam mais tempo com as crianças... são elas que devido à presença mais argumentos podem mostrar, mais provas podem mostrar contra quem está mais ausente. As cabeças mal resolvidas das mulheres que não sabem ser Mulheres e Mães mas apenas Ex-Mulheres do Ex-Marido são as primeiras a pensar nas melhores formas de lixar o Ex-Marido pelo facto de agora ela ser Ex de alguém... de ser divorciada... de não mais poder desempenhar o tal papel segundo o qual sempre foi educada a cumprir. Usam as crianças, pensam em estratagemas e esquemas e mentiras e formas de opor a criança ao pai, tornando os poucos dias em que a criança está com o mesmo num inferno. Não me admiro nada de que hajam pais (homens) que gradualmente se vão afastando dos filhos por, a partir de certaidade, nada mais poderem fazer para tentar convencer a criança de que a Mãe, infelizmente, é mentirosa, mal resolvida, má, cruel e desequilibrada.
Concordo em absoluto com a lei, nem que seja para que as crianças não estarem durante tanto tempo expostas a quem, "tradicionalmente" e com as devidas excepções, inicia essas guerras que apenas criam crianças com deficites de tudo e mais alguma coisa, mal-amadas e amargas perante o mundo.
Há que as salvar de quem mais bem lhes devia querer: as Mães (e aqui uso o mesmo argumento que os Srs. Drs Juízes - deu-lhe vida... pariu-a... foda-se.)
É claro que há excepções, mas são tão poucas, tão raras que quase que não vale a pena falar delas (eu pelo menos não conheço).

Lamento, mas enquanto Mulher e futura Mãe, sinto-me envergonhada, enjoada, doente e absolutamente zangada com aquilo que as Mulheres têm vindo a fazer até hoje neste campo. Envergonho-me de quem durante meses teve uma vida a crescer dentro dela para depois apenas utilizar esse pequeno ser como uma arma de arremesso contra quem de outra forma não podem atingir. É triste, lamentável, vergonhoso, inqualificavelmente absurdo, incompreensível e estúpido.
Desculpem o desabafo, mas já tive que passar pela experiência de ter que explicar a uma criança de 6 anos que sim, a Mãe gostava muito dela, que não, a Mãe não era má nem lhe queria fazer mal e não, a Mãe não a ia roubar ao Pai e aos Avós e que sim, a Mãe era amiga dela e que não era por a deixar ao abandono em casa dos avós durante os fins-de-semana ou sempre que queria ir divertir-se para mostrar ao Ex-Marido que estava tudo na maior com ela, que não gostava ou que não queria estar com ela.
Ver uma criança de seis anos com duvidas existenciais e a recusar-se ir para a Mãe é de partir o coração. Cria uma revolta tão grande e tão frustrante dentro de nós que é impossível explicar.
E o que há a fazer? Nada. Falar com o Sr. Dr. Juíz que apenas atenderá que a acriança até tem um quarto só para ela e que as notas na escola até nem estão muito más?
Oh barda merda.
Eu, Mulher e futura Mãe, envergonho-me de Mulheres que de Mulheres apenas têm o género. Mais nada.

(desculpa...)

Em relação ao resto, aplique-se o mesmo para os dois casos (em relação à entrega das crianças em lares e coisas assim.) Mas também digo... é a salvação de certas crianças. Infelizmente.

Toze 17 de abril de 2009 às 16:29  

Também não queria fazer parte desta sociedade moderna, mas parece que não há volta a dar , continuemos tentando melhorar qualquer coisa que seja...

A Ex-Mulher do meu irmão ganhou a tutela do filho como tem vindo a ser tradição em Portugal,os filhos são entregues às mães independentemente da situação "pessoal" ou sócio-económica. De um momento para o outro o pai deixa de fazer parte presente na vida do filho por decisão do Tribunal e mais tarde pela Ex-Mulher. Os anos vão passando o pai vai pagando a pensão, e a criança é visitada apenas o que a lei permite e nem mais um segundo pela vontade da Ex-Mulher. O pai vai telefonando diariamente ao filho a Ex-Mulher vai aplicando os horarios a que deve ser feito os telefonemas. Os anos vão passando e com os curtos horários impostos pela lei e pela Ex-Mulher o elo de ligação pai-filho vai-se quebrando...poderia continuar, mas não vale a pena!

(Não estou a defender partes, porque existe também o contrário)

Mas conheço Mulheres que conseguiram deixar de ser Ex-Mulheres e tornarem-se verdadeiras Mães ao permitirem que os Ex-Maridos fizessem parte no dia a dia dos filhos, e quando assim é, é de louvar, e os filhos agradecem!

Sempre que estive presente quando o meu sobrinho telefonava ao pai, 99% das vezes era para pedir dinheiro, o que é triste!

Acredito que quando fizer 18 Anos não volte a ligar ao pai !

E assim se matam as relações!

E os senhores Juizes e os técnicos especializados, lá continuarão com a teoria como dado adquirido, tal como diz a Lizard.

Anónimo,  17 de abril de 2009 às 17:47  

Pois e nao podia deixar de dar a minha opiniao neste assunto tao importante da nossa sociedade pois isto e o futuro do nosso pais (estas crianças) e tambem pelo facto viver todos os dias com uma situaçao destas. E o que eu verifico e que muitas das vezes as maes que ficam com os filhos, porque a lei e assim, nem sequer têm paciencia pra elas e mt menos para os filhos e depois o que acontece e crianças com traumas e depressoes!!!
Pois e que palavra tao feia para uma criança mas melhor que ninguem a minha amiga G. sabe o que isso e!
Infelizmente hoje em dia as crianças ja tem depressoes e nem sequer tem problemas de dinheiro ou com o namorado ou com outras merdas quaisquer que os adultos arranjam quando têm uma depressao. Mas o facto e que elas (crianças) as têm e se calhar ate por problemas piores que os que nos adultos temos!
Eu tenho conhecimento de uma criança filha de pais separados que neste momento se descobriu que tem uma depressao pelo simples (ou complicado) facto de a mae nao ter paciencia pra aturar e passa o tempo a repreende-la! Conclusao da historia a criança vomita sem razao plausivel porque e a unica forma de se manifestar que nao esta bem e para finalizar na minha opiniao quem precisa de um psicologo e a mae porque nao sabe lidar com a filha e pior ainda rejeitou-a logo na gestaçao!
Então pra quê que a teve? Pergunto eu!
Isto de ter filhos e mta giro mas depois cria-los com amor carinho e atençao e que e o caralho!
Por isso e que eu so vou ser mae quando realmente achar que tenho tempo pa dar ao meu filho porque agora na posso ao fim semana tenho de buer uns copos com os amigos e trabalhar durante a semana na me permite hehe mas ao menos eu admito e so terei um filho quando eu achar que tou preparada para o ter e criar.
Ass.:N.G.

L. K. 20 de abril de 2009 às 00:35  

Oi Gaulês, bem vindo à rocha dos inadaptados :D

Mudámos as regras e tornamo-nos egoistas. Ao longo do caminho perdemos os valores e as virtudes e ambos são a identidade de um povo, o que o rege e guia em termos de comunidade igualitaria.

A sociedade está repleta de bizarrias, talvez porque tolerância ao outro é zero, o que nos leva a concluir que a tolerancia do proprio em relação a si mesmo também é zero. Tudo somado dá origem à permanente insatisfação das pessoas, ao seu vazio que não enche com materialismos e a procuras desenfreadas sempre nos locais errados.

As sociedades tem de atingir o caos para reavaliar as suas bases e redefinir prioridades - é para isso que servem as crises mundiais ;)

Vamos ver ;)

L. K. 20 de abril de 2009 às 00:42  

Olá Me,

Comprendi a tua posição e tudo o que disses-te e concordo com a parte em que após as separações as pessoas apenas se visualizam nos papeis de Ex's e esquecem-se que mais do que isso são pai e mãe, homem e mulher. Usam as crianças como arma de arremesso e os jogos são sujos,confundidndo continuadamente quem se magoa - não magoam o outro mas provocam danos irreversiveis em quem um dia juraram amar e proteger incondicionalmente. Socialmente v^-se mais as mães terem esse tipo de comportamento exactamente pela razão que refiro no post: porque é considerada a figura cuidadora primária, porque é chamada de figura de relação uterina, que supostamente prevalece sobre a relação emocional criada no acto de nascimento. Nem todas as mulheres nascem com o relogio biologico "acertado" com o instinto maternal, é triste mas não vale a pena "tapar o sol com a peneira" - há mulheres que não nasceram para serem mães e pronto, tão linear como concluir que há homens que não nasceram para casar quanto mais para serem pais.

Apesar de tudo sinto que é necessário alterarem-se outros arquetipos sociais relativamente ao que é esperado do papel de mulher, esposa e mãe para que se inverta igualmente este uso das crianças para atingir o outro...mas isso será outro post :P

L. K. 20 de abril de 2009 às 00:47  

Oi Tozé, sinto muito pela situação do teu irmão. Não o explicas mas acredito que a relação do teu sobrinho contigo e com o resto da familia paterna é igualmente inexistente e é esse tipo de situação que se designa por mais alienantes as que cortam os laços das crinaças com a familia do progenitor. Acredito que o teu sobrinho apenas ligue ao pai para lhe pedir dinheiro porque infelizmente esses comportamentos são inumeras vezes instigados sempre com o objectivo de magoar o outro...mas também vejo o outro lado a partir dos 16 anos já cabe ao filho dirigir-se ao pai, tentar perceber a versão dele e reaproximar os laços, quebrando as horas de chamadas, visitas e fins de semana e tornando-o em hábitos sem hora marcada...mas isso também já é outro post...o funcionalismo do meu umbigo e os jogos manipulatórios :)

L. K. 20 de abril de 2009 às 00:53  

Grande NG, sei do que falas e como o dizes. Por tudo isso sou a favor do IVG, é a cabeça de cada um que decide. As pessoas batem com a mão no peito contra a IVG mas não tem vergonha ou remorsos de rejeitar um filho na gestação prolongando o comportamento desde o nascimento até á idade adulta e ao contrário do que as pessoas pensam desde o 1º dia de vida as crianças são um "gravador" que assila tudo o que lhe é transmitido pela figura cuidadora: estados de espirito, humores, emoções, o deseja-la e ama-la ou rejeitar.

Infelizmente cada vez aumenta mais o numero de crianças com depressão é a tão aclamada hiperactividade e irrequietude motora. Há anos que o digo os pais se soubessem o que clinicamente significam ambos os termos não o diriam com aquele orgulho: "O meu filho é hiperactivo, é incapaz de estar quieto e concentrado. Toma ritalina desde os dois anos" - Tradução: pais de merda ;)

Anónimo,  20 de abril de 2009 às 09:52  

hmmm... sim... vamos ver ;)

  © Blogger templates Psi by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP