7 Semanas.
"Há vários meses que ia todos os dias aquela esplanada, era simpática, arejada, com gente gira e isso fazia-a trabalhar com uma outra disposição. Nunca havia reparado que ali ao lado, havia um alguém que passara a frequentar mais que o habitual aquele espaço. Todos os dias estava uma mesa mais próximo. Já o olhara mas nunca o tinha realmente visto. O mundo é curioso e de quando em vez mostra-nos que não controlamos nada, não antecipamos e não podemos prever, somos grãos de areia a tentar encontrar o par num imenso deserto. Naquela manhã, que se adivinhava solarenga, a esplanada estava cheia, ele chegou e vendo os seus intuitos defraudados, num golpe de coragem, arriscou: posso sentar-me por um instante, não há lugar e é apenas para beber um café. Prometo-lhe que não incomodo.
Ela acedeu.
A conversa banal sobre o estado do tempo e da falta de lugar foi evoluindo, passaram para gostos, feitios, desejos e outras similaridades. Um gesto de simpatia, uma vontade escondida e uma forte empatia, alargaram a conversa do pequeno-almoço até um simpático jantar. Não queria acreditar, não podia sequer fazê-lo: aquele desconhecido povoava-lhe os pensamentos levando-a a corar, gerava um baile de borboletas no seu estômago e brilhava ,qual espelho, nas suas retinas. Assustou-se quando percebeu que lhe apetecia vê-lo, largaria tudo para estar na sua presença e assustou-se mais ainda quando se permitiu perceber que havia combinado passar o dia seguinte com um perfeito estranho. Dia inesquecivel - ainda não tinha terminado e já sentia a sua falta - agora queria mais: imaginava sentir a sua pele, o seu hálito, queria senti-lo por inteiro. esta sensação era aterradora mas excitante: sentia-se viva. As horas juntos eram curtas e os dias sentidos como anos. Arrastaram-se naquela espiral de sentimentos, emoções e corpos como se o mundo estivesse no seu término e apenas eles existissem - disse que estava apaixonada, amor à primeira vista, a outra face da mesma moeda. Ele assentiu e propos-lhe mais um salto de Fé. Ela aceitou saltar do precipicio com ele. terminou a sua relação, apresentou-o aos filhos, familia, e deconhecidos: gritou-o ao mundo. Ele acompanhou dando os mesmos passos. Mudaram-se para uma casa conjunta e casaram no imediato. Foram sete semanas, apenas isso, uma eternidade decorrida entre o primeiro encontro por casualidade e uma vida a dois cheia de projectos, sonhos partlhados.
Hoje, decorrido menos de um ano, aguardam a saída do divórcio.
Bastaram sete semanas para transformarem as suas vidas em 180º e sete meses para sentirem o peso da vida real - a falta de vontade dele para trabalhar, o esforço sobrehumano dela para manter o orçamento positivo. Nenhum quer alterar a sua forma de ser e de estar, e o amor nascido de um vulcão, essa paixão fogosa e alimentadora nascida de um olhar e de um estar, mantem-se presa numa chama que arde num pavio demasiado curto.
Não sabe o que lhe dói mais, se sentir a impotência da falha ou de ter de acabar com uma vida inteira vivida neste espaço de tempo. Sabe apenas que não voltaria atrás, sabe apenas que naquelas sete semanas descobriu e fez parte de uma vida que até então afirmara ser apenas de filme. Não são os sentimentos que ditam o rumo desta comédia romãntica mas sim o dramatismo de uma vida real em que o material destrói o emocional. Trocava toda a sua vida por aquelas sete semanas mas por agora sabe que é hora de voltar ao mundo real."
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