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"Por mais que o sol brilhe existem fases em que as lentes não deixam antever esse brilho. Não era o seu caso, por agora. Algo tinha mudado, talvez não à sua volta mas dentro de si. Gostava de poder afirmar que se tinha operacionalizado uma verdadeira aprendizagem e consequentemente uma verdadeira mudança mas não sabia se essa era a verdade. Faz algum tempo que repara na mutabilidade das coisas, das pessoas e das verdades. Talvez sejam, novamente, as suas lentes a distorcerem o espaço externo. A impulsividade conduz-nos muitas vezes onde não queremos ir mas pensávamos que sim, faz-nos ter coisas que não gostamos mas que pensávamos desejar. Era uma lição a ter em conta. A precipitação, a zanga e a desesperança tinham-na assustado tremendamente e pela primeira vez não lhe saia da cabeça a frase: Cuidado com o que desejas porque podes obtê-lo. Como em tudo, o pânico tinha sido invasor e dominador mas após o desalento havia percebido que se assim fosse, seria. Há tanta coisa que ela gostava de experimentar, pessoas que povoam as suas noites e a quem gostava de sentir - pele na pele. Não se atrevia a dizê-lo.
Numa fase em que vive no limbo, em que não tem nada, sente-se poderosa e abençoada. Paz - estranho este sentimento pacifico de finitude - parece nada esperar e a Fé de tudo alcançar. Montanhas gigantes sempre se afiguraram, todas escorregadias e com a exigência de vários dias de viagem, vários sacrifícios mas com a tenacidade e resiliência tão características, alcançou o cume. Desta vez não será diferente: sei.
Peço-te que tenhas atenção, que não descuides o ambiente externo. Peço-te que, apesar dos "apesares", te permitas viver. Já pensaste que ele não sabe o que pensas porque não lho dizes, não desmanchas e receias a rejeição porque sentes sempre que ele te rejeita, será? Ou ele reage como tu? Essa pele que lhe queres provar, talvez seja o que também ele quer e nenhum avança - mutuo receio de perda, abandono ou rejeição? Parecem iguais quando se afirmam tão diferentes. Parecem ambos querer o mesmo e dizes-me: "eu não o uso. não o deixo na prateleira dando-lhe corda apenas para o saber ali" - Não, minha querida, tu simplesmente não dizes nada e finges que ele não existe. - "não é nada, é apenas o desejo de pele, não o queria na minha vida. somos tão diferentes." - mas ficas empolgada quando o ouves, ficas ansiosa, com o coração acelerado - desejas-o - isso não é nada, é alguma coisa. Tens razão: são preciso dois a querer. Seja aquilo que for: o tudo, o nada ou enquanto dura."
É fácil falar - sei.
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