terça-feira, 23 de outubro de 2012

Divagando ... 16

São as diferentes versões da verdade que servem de combustível ao dia a dia. Percepções distorcidas, necessárias à manutenção interna, são elas que estabelecem uma ilusão de ordem e organização que não possuímos.  Ultimamente as pessoas parecem existir num estado permanente de dormência: andam mas não se mexem, falam mas nada dizem, riem mas é vácuo, parecem acompanhadas mas é uma distorção da solidão. O mau estar é geral, cultivador de um estado perpetuo de insatisfação, desesperança, egoísmo e, uma espécie de finitude atormentadora. Rir parece sacrilégio, estar bem é afronta ao outro que nos confronta com o seu azedume e olhar critico malicioso. 
Estamos destrutivos, pior auto-destrutivos, é um aperto que estrangula e inebria um olhar, outrora, cheio de vida, cheio de sonhos, luta para não colidir com uma realidade sentida como perniciosa.
Tenho dias que não sei qual a qualidade do meu estado anímico. Sei que não me apetece compensar-me com qualquer compra supérflua que me preencha momentaneamente o ego, não me apetece chocolate ou comida hiper calórica, apetece-me beber e não é água mas até nisso não corre como ambicionado - Baco não tem deixado que adormeça embalada pelos seus nectares divinos. Honestamente  ando numa fase estranha de tão tranquila interiormente, gostava de saber como cá cheguei, pois apenas me lembro de ser um poço de tormentas e um vulcão em actividade e de repente pufff ... qualquer coisa se alterou em mim. Será comodismo? Rendição? Depressão? Ou um baixar os braços disfarçado? São estas merdas que me chateiam, como gostava que a vida tivesse livro de instruções ou pelo menos que após uma mudança encontrássemos o papelinho que nos diz que vamos na direcção certa. (suspiro) 

Já não existem grandes amores mas sim grandes necessidades, porque um grande amor não é pacifico, e não pode ser tratado com cuidado. A precaução relacional deixamos para quem queremos impressionar, para quem não queremos que nos conheça falhas ou imperfeições. Os grandes amores dão trabalho mas não um trabalho externo, não precisa de gritos, ameaças, de submissão, rendição ou adestração. Os grandes amores dão dores de barriga, insegurança e medo de não sermos suficientemente bons, giros, magros ou interessantes, e é esta admiração pelo outro que nos deixa de borboletas na barriga e meio tótós, com um discurso errático, imaturo ou apenas incoerente: as palavras são atropeladas por um sem número de emoções. Um grande amigo pode ser estabilidade e segurança e não um grande amor, daqueles que dão vontade de descascar batatas e fazer um jantar aprimorado apenas e só porque sim, mesmo que os nossos dotes culinários sejam medíocres. Não acredito que possamos amar a mesma pessoa duas vezes, nem que nos possamos apaixonar por ela novamente, acredito sim, que se nos voltamos a cruzar e as coisas até parecem fazer sentido novamente só pode ser uma de duas coisas: ou não avançamos ou aquela pessoa é "uma pedra no sapato". O professor Eduardo Sá diz que a melhor maneira de não esquecermos algo ou um alguém é obrigarmo-nos a não pensar na pessoa, e que o contrário é a forma mais rápida disso acontecer. Concordo, até por experiência própria, quanto mais me esforcei para matar  alguém  dentro de mim mais os pensamentos eram recorrentes e pareciam ter vida própria, quando tomei a decisão de debater à exaustão os aspectos que me ligavam a essas pessoas elas perderam importância, como se se tornassem rotineiras e a determinada altura falar delas ou do Messi era-me exactamente igual: não me interesso por futebol, sei que é conhecido na sua profissão mas não sei exactamente por quê.


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