terça-feira, 8 de maio de 2012

Reencontros

Ontem encontrei um colega do secundário, era um dos meus melhores amigos, embora ninguém percebesse porquê e sinceramente, nem eu. Não podíamos ser mais opostos, ele o típico menino certinho que estava ali para ir às aulas e estudar e entrar na faculdade mal terminasse. Eu - a desequilibrada maníaca com aspirações de Che Guevara, sempre em confusões e com o culto da tristeza infinita e mágica da adolescência: fã de culto de The doors, Janis Joplin e The Ramones - respirava-os. Embora tenha tentado algumas vezes desencaminhá-lo, nunca fui bem sucedida mas como lhe dizia "alguém tem de ir às aulas e tirar os apontamentos" - ele fazia-o exemplarmente, enquanto eu ia jogar snooker ou beber minis a jogar ao "sobe e desce" na Casa de Pasto. Os meus "amigos" não curtiam lá muito a presença dele era "marrão" e suspeitavam sempre que delatasse a malta - Eu acreditava que não e hoje (ontem) percebi que funcionava como uma espécie de suporte e também "escudo" - o secundário é fodido para alguns.

Terminado o tempo regular de secundário, ele terminou em grande estilo, concorreu à faculdade e finalmente ia concretizar o sonho de alguém que não o seu: ia ser engenheiro - Eu fiquei com a matemática de 12º ano em atraso e sem grandes planos para o futuro imediato, excepto, a certeza de que antes iria trabalhar, já o fazia e gostava do dinheiro. andei assim durante uns anos, até que um dia resolvi que ia para a faculdade e tal como o decidi, assim o fiz mas com um espírito académico completamente diferente ou seja, sem nenhum - estava ali para tirar uma formação superior e ia fazê-lo. deixei os excessos e a loucura no secundário - aqui não me admitia falhas ou atrasos - mais uma daquelas cenas que transformei em orgulho, ponto de honra e cavalo de batalha - não chumbei cadeiras, não fiz exames e terminei no previsto.

Ontem perguntou-me se tinha chegado a acabar a matemática. Respondi que sim. Admirou-se quando lhe confirmei que tinha ido para a faculdade e disse-me que nunca imaginou pois "eras mais do tipo rebelde" e finalmente contou-me que andou 12 anos a tentar concluir a bem dita "ingenharia" até que finalmente - os outros - aqueles que o ambicionavam perceberam que nunca iam ter "um filho inginheiro" - "LK, nem imaginas como odiei aquilo, se no 1º ano detestei a partir daí foi sempre a odiar. Acho que ainda hoje odeio até o pensamento da coisa". Lamentou não ter ido jogar snooker e nunca ter alinhado nas "maratonas de sobe e desce" e outras coisas esquesitas que fazias e que até hoje nunca fiz ..." No fim perguntou-me "lembras-te de em 96 (?!?) me teres convidado para ir beber uns copos e apanhar uma bebedeira? Achas que ainda vou a tempo?".

Não sei se vais a tempo, nem sei se há um tempo mas sei que há coisas que apenas faziam sentido naquela altura e naquele contexto. Hoje seriam inexpressivas e deixariam um amargo de boca porque é impossível recriar o passado.

Ontem tive saudades de mim.

3 comentários:

Clementine 15 de maio de 2012 às 11:28  

Excelente texto...<3 Doors!!! E é bem verdade, há coisas que tèm um certo tempo e contexto, fora de isso não faz sentido!!

L. K. 15 de maio de 2012 às 12:36  

Bem vinda Clementine,

no entanto por mais que tenhamos essa certeza há sempre uma parte de nós que de quando em vez se esquece e lá tenta recuperar um sentimento perdido em algures :)

Clementine 15 de maio de 2012 às 13:13  

Obrigada :)
Sim tens razão, aquela saudade que nos deixa num estado de nostalgia, mas é bom, significa que foram bons momentos, bons sentimentos...*

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