terça-feira, 8 de maio de 2012

Chorar apenas porque ... faz falta (?!?)

Não me lembro de chorar na infância, não porque não me castigassem ou me magoasse mas de acordo com a minha mãe porque era "torta". Com o passar dos anos e alguns acontecimentos menos positivos as lágrimas secaram, senti-as e entendi-as como um sinal de fraqueza, e o que eu precisava era de ser forte e sobreviver à montanha russa em que se transformava a minha vida. As minhas lágrimas começaram apenas a surgir em situações de luto efectivo e nessas alturas eram catárticas, como se estivessem acumuladas à espera de sair e esta razão as justificasse. Não chorava porque rapidamente transformava a tristeza e a dor em raiva e porque achava o choro ausência de clareza e resolução ... também porque feria o meu orgulho e faziam sentir fraca e impotente. Durante anos senti repulsa pelas pessoas de lágrima fácil, sempre o senti como teatro tendo em vista a manipulação e eu detesto sentir-me manipulada ou melhor mal manipulada pois conheci algumas pessoas que sem lágrimas me manipulavam inteligentemente. Não me lembro de chorar à frente de ninguém, inclusivé quando tive o acidente, apenas chorei quando estava já no S.O. e me apercebi de quais poderiam ser as consequências. A partir desse momento chorei ininterruptamente, às lágrimas não secavam e não as conseguia controlar - representavam a minha finitude e a impotência de me valer a mim própria - ali não mandava nada e não podia nada.

Anos mais tarde voltei "a cair e a esfolar os joelhos e a testa", descobri que por mais que fizesse, por mais que tentasse não estava a conseguir alcançar os objectivos a que me tinha proposto - estava na mão de terceiros, dependia deles para a concretização - nesta altura aconteceu-me um fenomeno estranho, pois não consegui parar de chorar, às lágrimas ganharam vida e vontade própria e não as conseguia parar. Não permiti que ninguém testemunhasse esta "fraqueza". Desde então parece que choro mais facilmente, desde então permiti-me chorar e percebi que faz falta, que é preciso, que me acalma e que às vezes preciso de ter pena de mim própria - hoje acho que é um acto de humilddae e coragem, que significa assumir dignamente a minha pequenez e incapacidade perante determinados acontecimentos ou situações. Hoje em dia aceito que preciso de chorar, que devo de o fazer e que não fico mais frágil por fazê-lo. Também sinto que chorar me permite sentir e estar em contacto com as minhas emoções mais profundas. Ainda não é um processo simples ou fácil, ainda necessito de estar a transbordar, ainda não o consigo fazer na presença de terceiros - conhecidos ou desconhecidos, intimos ou não.

Hoje sei que houve determinadas alturas em que me apelidaram de "seca" apenas porque a arrogância não me permitiu verter uma única lágrima em presença, e se fosse hoje talvez voltasse a reagir da mesma forma pois o simples pensamento de que possa suscitar "pena" em alguém é-me doloroso e quase tão intolerável como o acontecimento. A intenção foi sentida como tentativa de me fragilizar e foi alcançada, eu apenas não dei o "prazer" a ninguém de se vangloriar com o meu sofrimento ... mas sofri e também chorei mas também sequei as minhas próprias lágrimas e voltei a erguer-me.

Choro e sabe-me bem. Choro no limite, quando me sinto impotente e zangada ou se a tristeza não é domesticável. Às vezes também choro com pena de mim, outras apenas por mim e outras ainda retrocedo e zango-me com a vontade de chorar pois sei que não resolve nada e tolda-me o discernimento, além do tempo que me faz perder. O que mudou: fui eu. Sei que preciso, que faz falta e que ajuda na viagem e que temos de ir ao fundo para vir ao de cima. Hoje comovo-me com parvoíces, só ainda não percebi se estou mais sensível e mais em contacto com as minhas emoções ou se sem me dar conta sofro de uma Perturbação Distímica (?!?) estou em crer que sim!

Espero um dia entender as lágrimas como outra qualquer necessidade fisiólogica, espero um dia ter a humildade de chorar frente a outros sem com isso me sentir ridicula ou impotente. espero ter a capacidade de chorar de alegria ou apenas porque me faz falta e não porque a tristeza me domina.





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