Obtusa
Tenho alturas que exibo a maturidade de uma criança de 4 anos: sou egoísta, egocêntrica, presunçosa e mimada. Não posso dizer que me orgulhe, antes pelo contrário, fico com remorsos, a pensar que devia corrigir tais acções ou pelo menos tentar. É também nessas alturas que percebo como sou teimosa, orgulhosa e pior: igual às pessoas obtusas da minha família, aquelas que nem assumo que me são familiares. Aquelas que critico e com as quais entro em conflito por discordar dos seu modo de agir.
Às vezes magoa-mos as pessoas que amamos de formas tão profundas que era preferível dar-lhes uma cacetada, pois doía-lhes menos, de certeza absoluta. Nunca me pensei como sendo uma má pessoa mas pelos vistos também não sou boa pessoa. Talvez esta seja a minha verdadeira essência e talvez por isso passe pelo que passo e as coisas aconteçam sempre como acontecem. sempre questionei a frase "cada um tem o que merece" por não saber o que é ser merecedor e muito menos por desconhecer "quem" decide se somos merecedores ou não seja daquilo que for. Acho, no entanto, que começo a perceber: recebo o que dou.
Gostava de conseguir alterar o rumo dos acontecimentos mas não tenho poder para isso, nem vontade. Aceito e aceito-me nas limitações. Estou muito cansada de andar sempre a lutar, estou exausta de estar constantemente a tentar não me afogar. Desisto. Assumo as minhas limitações, está na altura de ver além dos pés, de perceber que se não dispo a armadura não saio do campo de batalha.
Apetece-me hibernar e acordar daqui a uns tempos, renovada, com energia fresquinha para prosseguir. Talvez o faça, talvez ceda a mim própria e delegue poderes que não são meus pois o que se aproxima é grande e não sei se conseguirei manter-me de pé, se terei a capacidade de carregar tudo sozinha. Pela primeira vez reconheço-me o medo de me tornar uma pessoa amarga, zangada com a vida e o mundo. Essas pessoas não são agradáveis, antes pelo contrário. Não sei que caminho é este, onde me leva e de que maneira, só sei que o receio.
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