Podemos tentar mas não quer dizer que sejamos bem sucedidos. Tentemos, ao menos isso, tentar para que não existam "ses", para que se aliviem consciências, e se confirme o que há muito sabíamos: Estamos mudados, crescidos, magoados, mais experientes, mais velhos, mais conhecedores ou mais qualquer coisa, seja ela aquilo que for.
Há um esforço de normalidade quando já nada parece ser o que foi, quando nós não nos reconhecemos no espelho ou no seu equivalente: o comportamento. Sinceramente, não posso dizer que me faz confusão ou que o lamento, apenas aceito e sigo em frente. Estou habituada a que assim seja, não me é estranha esta ausência de ser e de seres, a vida muda, surgem novas prioridades, e por vezes não consegues enquadrar-te, nivelar o ritmo - está na hora de um seguir em frente e o outro pela direita ... quem sabe algures no futuro nos voltemos a cruzar, quem sabe teremos outras realidades que necessitem de se complementar - quem sabe. Por agora é o que é e não o que tentamos que seja - a âncora solta-se - nada nos prende, a não ser a resistência à mudança.
Gostavas de ter algo a partilhar mas não tens, os dias seguem-se iguais: após a segunda vem a terça e logo atrás a quarta, depois a quinta e eis que surge a tão desejada sexta, e com ela o prenúncio do sábado e do domingo, iguais a tantos outros sábados e domingos. Já não os distingues. Olhando para cada um destes momentos individualmente reconheces-lhes os traços, qual dejá vu, os imprevistos são-te exteriores e em nada te acrescentam - slow motion.
Não há emoção, nem dada, nem recebida, pensas que não sabes sentir pois tudo o esperado não se concretiza, ficando apenas uma cratera aumentada dia-a-dia, e nesse lugar outrora chamado peito ergue-se hera que cresce e se enreda na pele e na alma. Sabes que há gentes com crateras maiores e fossos em que se banham mas também sabes que há gentes que habitam no cálido e na nadrugada encontram o calor de um sol que as embala, protege e securiza. Não consegues parar os pensamentos e a escuridão que exalam mas podes (tentar) controlá-los e fazê-los perder o negro, quem sabe passá-los a cinza, esperando que um dia a luz os lave. Até nisso, nos pensamentos, dou comigo a pensar-te cobarde: afirmas não lhes dar voz para não destruir outros, afirmas que não saberiam sobreviver-te mas será que não és tu que não consegues sobreviver à violência do pensamento?
Pensava conhecer-te mas vejo agora que somos estranhos que habitam no mesmo espaço. As Leis da Física dizem que é impossível dois corpos físicos ocuparem o mesmo espaço mas começo a ter dúvidas, pois ocupas este espaço, que é meu mas não sei quem és, e todos os dias nos distanciamos um bocadinho mais. É um abismo o que nos separa e não parece haver ponte ou ligação aérea, apenas vazio. Dizes não te afectar por nada e sinto-te afectada por tudo. O idealismo é como a demagogia na prática não são funcionais.
Que queres que te diga? Começo a perder a paciência e a vontade para te ouvir, é sempre o mesmo, dizem que após uma fase descendente vem uma ascendente mas digo-te que nem sempre é verdade, às vezes as coisas são mais simples dividem-se entre o -1 e o 0 - respira e volta a mergulhar pois não sabes se é magma ou água, até lá fecha os olhos e pára - faz nada, apenas isso Nada, porque esse nada é decidido por ti e poderás armazenar energia para lidar com os outros grandes Nadas em que vives.
Um dia falamos e quem sabe consiga perceber o que me tentas dizer, quem sabe compreendo o que és e em quem te transformas-te. Sabes como chegaste até aqui?
Lamento mas acho que não te posso ajudar.
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