segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Viagem

Se estás triste fica triste. Dá-te tempo e espaço para te encontrares, procura-te no sitio menos óbvio. Se necessário refugia-te, isola-te mas faz o luto de todas as tuas mágoas. Respeita-te e torna-te sabiamente egoísta. Sabemos que as fugas, às vezes são necessárias mas não aquelas que nos levam de nenhum lado para lado nenhum. Não podemos exigir aos outros o que não damos, não podemos justificar as nossas faltas de respeito com o nosso estado de animo. Esse apenas serve para ajudar outros a perceberem porque choramos, quando todos os outros riem ou o inverso. As feridas não saradas infectam, e podem gangrenar. Após gangrena o membro pode sofrer amputação mas para quem não sabe, existem amputados que sofrem de "Dor do membro fantasma" - esta dor pode ser aumentada substancialmente quando emocionalmente se está debilitado. Cura a tua alma, cura-te sem placebos ou mecanismos de compensação. A viagem é longa, o caminho doloroso e difícil mas sem dúvida o melhor caminho. É aquele em que terminamos exaustos mas regenerados, se tivermos a coragem de não arrepiar caminho - o que é tão fácil - caminhar a nu, pormo-nos a nu e sentirmos o peso de uma solidão regenerativa, sentirmos cada lágrima que choramos apenas porque temos pena de nós próprios, porque precisamos de nos lamentarmos e descer ao fundo. Não dura para sempre, não é fácil ou simples a subida mas quão enriquecedora é a viagem, o quanto nos coloca à prova a Fé e a capacidade de regeneração.


Durante a jornada tenho tido alguns apoios, caminhantes que comigo iniciaram esta jornada, outros que se cruzaram em determinada altura e nem sempre vieram para aliviar a carga, o que umas vezes me fez recuar e outras avançar com maior determinação. Quantas vezes me apeteceu sentar na berma e baixar os braços. Depois lembrava-me que aquilo não era eu, em toda esta viagem ninguém foi culpado das pedras que pisei, dos espinhos que espetei ou das cabeçadas que dei e também não arrastei ninguém. Hoje, sei, que a vida é feita de planícies, planaltos, vales, montes e montanhas, que em todos corremos o risco de apanhar as quatro estações, restando-nos apenas a capacidade de colocar um pé à frente do outro e avançar, de costas ou barriga mas avançar.

Olhar para trás não é opção, o que preciso de recordar está dentro de mim e não num passado que não volta a ser.

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