quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sentimentos? Qu'horror!

É proibido sentir, seja o que for, excepto dor física, essa fica bem, e se houver sangue ou "evidências" ainda fica melhor. Se me irrita aquela cena tipicamente americana de por tudo e por nada andarem de abraços e "i love you" abaixo e acima, também me chateia esta cena tipicamente portuguesa do "estás assim por quê?".

Porque é que não podemos sentir?

É feio termos pena de nós próprios, impróprio demonstrar tristeza ou sentirmos desespero, insegurança, quiçá raiva. Bonito é andarmos todos contentes e de cara  alegre mesmo quando a vidinha vai de pantanas e o rolo está tão emaranhado, que não se acha a ponta ... e quando se acha parte de seguida.

Não devemos auto elogiar-nos, proferir as nossas qualidades ou expressar o nosso contentamento face ao êxito, dizem que é falta de humildade, gozam a nossa falsa modéstia, e postura de auto-confiança e segurança, é muitas vezes, sentida como um ataque aos outros, uma racha na sua auto-estima, põe a descoberto as suas inseguranças, e fá-los pôr as garras de fora, em ataques cerrados de mesquinhez, e vulgaridade. Cansa-me a desvalorização do outro, do que ele sente, por outro lado compreendo que é essa desvalorização que mantém psicólogos e psiquiatras no activo. Aceito.

De quando em vez, gosto de me entreter e perguntar a miúdos e graúdos, que me digam duas das suas qualidades e dois dos seus defeitos, curiosamente, os defeitos saem disparados e as qualidades custam a aparecer. Devemos ser humildes, desvalorizar-nos, enquanto mecanismo defensivo de inveja alheia. Essa merda irrita-me, as palavras de senso comum face ao sofrimento alheio: "deixa lá podia ser pior", "isso passa manhã já te esqueces-te", "melhores dias viram" - compreendo o intuito mas deixem-me estar na merda em paz. Deixem-me ter pena de mim própria, sentir a tristeza que tenho e expressá-la, deixem-me chorar, deixem-me não sorrir, e apresentar um discurso monocórdico, fatalista, desesperançoso  ou desesperado. Não devíamos ser forçados a chorar pelos cantos, a esconder-nos em sorrisos hipócritas, que de sorrisos apenas tem os dentes. Há dias melhores e dias piores, há fases in e fases out, há momentos de puro prazer e de puro desprazer, as rosas também tem espinhos, não deixa de ser mais ou menos rosa por isso, integra-a e completa-a.

Porque é que temos de ser todos fortes, de estado anímico ensolarado, sorriso fácil e palavra ágil, quando a verdade se encerra em lágrimas contidas, tristeza abafada e palavras duras. Deixem-me estar zangada, deixem-me sentir mal, a pior pessoa do mundo, a mais infeliz, a mais feia, a mais incompreendida e  só. Deixem-me sentir o que sinto e não o que querem que eu sinta porque o meu verdadeiro estar vos incomoda, vos fragiliza e confronta com as vossas próprias limitações, fracassos e tristezas camufladas.

Compreendo, percebo e aceito que a continuidade torna o estar patológico mas deixem de patologizar tudo o que temos dentro de nós menos bonito, porque  nem sempre é assim, só quando há um núcleo que se destaca por um período superior a seis meses, e até este período precisa de ser contextualizado.

Posto isto, digo: 
Caralho para o Universo que se continua a dar-me boas noticias como até aqui não chego aos 40.
Preciso de uma boa noticia MINHA ou para MIM - apesar da capacidade de me alegrar com as conquistas dos outros, nesta fase não me bastam - não é egoísmo é sobrevivência.
Raios partam a forte ondulação que não me deixa erguer, indo mais além, a calmaria por si só também não basta - o que não aconteça nada já me é prazenteiro e tranquilizante - MENTIRA - preciso de algo mais, positivo e meu, para mim.
Um pilar de pé, apenas isso, um pilar erguido, a erguer-se, betonado, qualquer coisa, porque o da Fé começa a dar sinais de si.

Tenho sentimentos e sinto-os, doem tanto como quando parti o braço, a perna, o dedo, a cabeça, o pé, e as vértebras, só que  os físicos vieram com uma aproximação de validade, estes vem sem anúncio, em catadupa e sem fim à vista, em comum, tem o facto de me acertarem todos na testa e me deixarem a abanar.

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