domingo, 27 de janeiro de 2013

Tempestade.

Sábado de tempestade, acordo ainda mais cedo que durante a semana, ouço o vento e penso que estou ainda a sonhar. Abro o estore, espreito e penso: foda-se! só tenho ideias de merda, onde é que será que Noé deixou a arca estacionada?
Lavo-me, visto e saio. Inicio uma viagem louca entre árvores a cair, ramos a baterem-me no carro, e a ajudar, médio esquerdo fundido. Conseguirá isto ficar melhor? Claro que sim. Chego para apanhar o comboio e a cidade não está fantasma porque o pânico reina, tirada de um filme de série B - voam sinais de trânsito e outros objectos estranhos. Corro para apanhar um comboio que nem sei se irá chegar mas corro porque preciso de correr: a ilusão de que controlo alguma coisa no meio daquele temporal. Controlo o medo - nisso sou boa - enterro os sentimentos e mentalizo-me que gastei 250€, que os mesmos me foram muito suados e não posso falhar ao compromisso assumido. Não posso falhar - parece caracterizar-me e dominar-me - só eu é que não posso falhar - delírio de grandeza? Estupidez - estou em crer.
Chega o comboio e as caras parecem adivinhar catástrofe anunciada, todos estão tensos, todos olham pela janela, hoje ninguém dorme, e todos fingem que nada se passa. Não temos medo. Eu também finjo. Chego a Lisboa e o Tejo impressiona-me pela rebelião, um cinza escuro que esperneia e atira ao ar lembrando "quem manda aqui" - fiquei fascinada pela beleza e estática pelo respeito que impunha. Não o quero como inimigo. Nas ruas sente-se uma tranquilidade de queixos tensos marcados pelo som de sirenes: que se passa? Nada, não se passa nada, caíram uns postes e umas árvores, não é nada. O medo é lixado, dá-nos um certo autismo, que nos permite manter a ilusão de controlar tudo.
Finalmente chego onde quero chegar, rebenta-se o botão das calças. 
Haverá melhor maneira de começar o dia? Isto tudo antes das 8h30 da manhã.

Sou assim com tudo o que é importante, uma necessidade incontrolável de (me) provar que está tudo bem, tudo controlado.Ajo, sempre, como se não fosse humana, como se a mim não me fosse permitido sentir - e sou eu que não me permito. A tempestade ficou dentro de mim, derrubou árvores centenárias, postes de alta tensão e arranha-céus. As fundações estremeceram e houve derrocadas.
Deixou-me a pensar.

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