quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Divagando ... 4

Não sei se sou "normal" ou apenas assintomática. Quer parecer-me que conceitos de normalidade andam sob valorizados, numa época em que nada é normal ou em que tudo difere do que conhecíamos e mais ainda do que ambicionávamos. A minha realidade diária foge ao normativo dos "sítios limpinhos e pessoas arrumadinhas" - há muito que perderam. Impossível. Nunca tiveram, são os "normais" que as rotulam de não ter, não ser e não parecer. Prefiro encarar estas pessoas e suas realidades como movimentos contra-culturais ou apenas como uma "wake up call". Quando nos confrontamos percebemos que não se pode usar o que nunca se aprendeu, se o modelo desconhecia, o modulado irá partir do suposto que não existe. Aliado a estes contextos alternativos por onde deambulo a maioria do meu tempo acordado, surge uma nova geração que não se identifica com nada, que não se motiva e se rege por alguns conceitos que "fogem à normalidade". Exibem graves problemas de confiança e definem amizade como "quem está no momento", sonham com amores Shakesperianos mas até lá não concebem que isso esteja relacionado com o uso e abuso da sua sexualidade. Não julgo, condeno ou recrimino, aliás nem me pagam para isso, no entanto não consigo incluir nos meus padrões mentais, não por puritanismo mas porque me assusta a exibição do instinto de morte no seu estado mais puro, até onde vão? A educação que não forma o carácter, que não primazia o juízo moral, é uma educação que potencia a desculpabilização, que não adequa as emoções aos acontecimentos, o que torna enviesado o instinto de vida. São cada vez mais as grávidas adolescentes que procuram encher um vazio que as preenche na totalidade mas que ninguém lhes ensinou como preencher, outras ainda acreditam que é aquele novo ser o bilhete para o amor eterno e uma fuga antecipada do domínio parental que os ama com um amor amigo mas pouco contentor, pouco seguro, logo, nada eficaz. Esta modernice dos pais amigos está a revelar-se perversa, quando tudo falha é bom e securizador saber que se tem uma Mãe e um Pai, saber que se chega a casa e eles nos perguntam como foi o nosso dia em vez de "a que bar vamos no sábado à noite". Não sou fatalista, não sou esquecida, tive e lembro a "minha fase da gaveta", também me achei um Armstrong por ouvir rock, sair à noite e beber mais copos do que devia ... entre outras coisas mas por outro lado sabia o que era um alpendre, não idealizava ir de férias à Península Ibérica e tinha a absoluta certeza que África não era a capital de Angola. Continua a não ser mas se continuamos neste registo, mais dia menos dia, será. Pareço uma velha casmurra a lamentar o estado da adolescência, talvez porque convivo diariamente com eles e isso tenha prolongado, de certa forma, a minha, ou talvez por conviver diariamente com eles os sinta perdidos e sem direcção, mas felizes, assim se descrevem e acredito-os - quando o modelo desconhece outras formas de vida o modelado assimila-as como perfeitas, desconhecendo que a perfeição é uma faca de dois gumes e que existe uma diferença abismal entre ter uma vida boa e ter uma boa vida.

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