Viver
- Achas que sete semanas é pouco tempo para conhecer alguém, namorar, viver junto e casar?
- Não, não acho.
Respondi de alma. Senti-a agradecida. Talvez apoiada.
Acho que não existe um balizamento de tempo. Não deveria existir. Muito ou pouco tempo? Conceito espácio-temporal sobre valorizado. Será o gostar um contrato com "início a 01 de Julho 2011 e terminus a 30 de Junho de 2013"? Haverá prazos, tempos certos ou timmings perfeitos para além daqueles que o nosso instinto, a nossa alma designa. Esperamos pela construção de um bem maior ou pela finitude do todo, que temos agora, para avançarmos para o que desejamos. Perguntaram-me se eu acreditava em "clics" - tirando o da meia noite da passagem de ano - SIM, acredito. E se acreditava na construção do amor. Sim, chamo-lhe manutenção do Eu, Tu e Nós - riu-se satisfeita - senti o alivio brilhar nos seus olhos. As pessoas são julgadoras da decisão alheia, seja o que for, curiosamente, está sempre errado: se namoram 10 anos e não casam, está mal, um deles tem um problema, o outro é "coitadinho"; se namoram e vivem juntos em 6 meses, está errado: são uns precipitados, com medo de ficar sozinhos. Quem somos nós para saber o que os outros sentem, o como e o porquê da decisão tomada. Quem somos nós para saber que um namoro de 8 anos dará uma melhor e mais duradoura união, do que um namoro de 1 mês ou 15 dias. Que pretensões são estas e porquê julgar os outros pelos nossos padrões de moralismo bafiento, cujo único uso dirige-se a terceiros - voltou a sorrir: namorou 8 anos e em momento algum teve estes desejos e esta vontade de se partilhar. Acredito-a. Não se explica mas deve viver-se, porque afinal: tudo é eterno enquanto dura. E nessa eternidade podemos ser e viver o que a alma nos pede - casa - se para a semana.
Desejo-lhe toda a sorte do mundo, nem sempre é fácil encontrar a bilateralidade nos "clics" mas quando se encontra acho que "against all odds" deve-se vivê-los, deixar que essa energia que se encontrou e vibrou em uníssono, flua.
É difícil explicar-se um "clic", difícil de o assimilar, quando todas as células ficam à toa. Percebemos que as sensações despoletadas são diferentes, quase maníacas. Os sentidos vibram num desejo de pele e toque. O sorriso é fácil, inconsciente e perpetuo. As energias convergem e fundem-se, criando a sensação de nos conhecermos desde sempre, tornam-se fáceis os movimentos e os discursos, deseja-se que o café seja eterno. Tenta-se racionalizar, as borboletas no estômago, refreia-se o desejo de tocar, enquanto se absorve os cheiros, os gestos e os movimentos, bebe-se dos seus lábios e questionamo-nos sobre o que nos está acontecer, se o outro sente o mesmo, que nós, se o "clic" é unilateral ou bilateral. O tempo passa e protegidos por uns "eternos óculos de sol", acobardamo-nos, sentimos medo de nos colocar a nu. Verbalizar é incómodo pelo sentimento de pequenez e ridículo, pelo receio da perda do que não se tem e dominamo-nos. Um domínio arcaico e desprovido de sentido pois os pensamentos são expontaneos e arrancam-nos sorrisos no meio de reuniões ingratas, a imagem do outro aparece-nos e reclama um tempo de atenção que não queremos, não podemos dar, pois as incertezas são certas, no entanto, o pormenor do seu cabelo rebelde, do sorriso iluminado e perfeito, das palavras sábias e coerentes, o seu andar, as suas mãos, o modo como bebe o café, tudo isso é recordado. Desejado. É assim que se sabe, "sabe-se" um "clic", quando tememos que as palavras nos traiam e os olhos, essas portas autónomas, nos denunciem, é desejar a pele do outro, desejar conhecer o seu corpo num todo explorado e partilhado. É querer mas encetar uma fuga para a frente ou ficar paralisado, sem saber o que fazer e o que dizer, o discurso explicito difere do implícito, pois todos os poros gritam: Quero-te, quero-me ... Quero-nos.
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