quarta-feira, 14 de outubro de 2009

**Suspiro**

Um coração partido pressupõem uma dor que apenas é refreada pela necessidade incontida de repisar o assunto, um mundo de "ses", em que a mente precisa de ser treinada para se focar no real e no concreto. Nestas fases as palavras ditas são dolorosas e raramente as ouvidas fornecem o alivio necessitado. Os amigos fazem o melhor mas a dor, o desalento e a tristeza inerente superam os esforços e boa vontade dos mesmos para nos tirarem do "buraco". Nesta fase de tristeza, de luto emocional, a chuva não chega para descrever as lágrimas choradas, o sol do deserto é rudimentar face a um coração árido. Descrevemos, ao minuto, o nosso estado de espírito deprimente com imensas métaforas e hipérboles nascidas no Hades. Não existem palavras ou acções que nos façam acreditar que "aquele" estado de espírito não é o fim do mundo. A tristeza provocada e sentida, por um desgosto de amor é diferente de todas as outras, é sentida como mais profunda, quase como que mortal: perde-se peso, não se dorme, o rosto denuncia cansaço e mau estar interno, a boca ri mas os olhos - esses espelhos da alma - denunciam uma quase ausência de vida, desmotivamos e isolamo-nos. O mundo acabou. Pelo menos o nosso mundo - aquele mundo.

Quando o coração se preenche de um outro ser, que o invade e faz render numa dança de suspiros, risinhos e saudades ao segundo, o nosso humor é quase maníaco. Vivemos a flutuar, acima dos problemas terrenos. As borboletas - essas teimosas - invadem o estômago ao toque do telemóvel - "aquele toque" - ao sinal de mensagem. Facilmente ruborizamos ao pronunciarem o seu nome, até quando o mesmo, não pertence ao ser que nos faz viver sem os pés no chão. Nesta fase da paixão, do enamoramento a disposição é contagiante de eufórica, sorrimos sem razão aparente e rimos sozinhos, o rosto rejuvenesce e mesmo sem dormir - porque o amor tira o sono - o nosso semblante é de leveza, de paz e felicidade. Os outros sentem-se confortáveis ao nosso redor, são contagiados pela nossa alegria transbordante. A felicidade é tanta que um dia de tempestade, aos nossos olhos, nada mais é que um excelente dia em que o sol brilha intensamente. Nem nos apercebemos de nada menos bom ao redor. São estados de alma ambicionados e - erradamente- procurados. O mundo é sentido como belo, incansável e um sitio esplendoroso para viver. Ficamos felizes só de ver algo que o outro gosta, de ouvir a sua música na rádio ou apenas de lembrar como é o seu sorriso, o seu olhar, os seus gestos e como seria tão perfeito se estivesse ali, connosco. Como havia de gostar de dividir o momento, este, aquele, o outro...o resto da vida.

E agora? Raios ma partam, e agora? O que é que é suposto sentir agora?
Quando os acontecimentos não são de luto da perda de amor do objecto ou de luto pelo objecto, quando não estou apaixonada ou enamorada ou atraída ou qualquer outra coisa daquelas que dão borboletas na barriga, seja objectivo alcançado, viagem ou carro novo, que seja até uma mudança de vida, de trabalho ou de personalidade. Quando a situação não é traição de "amigos", conhecidos ou colegas de trabalho e não se pode sentir raiva, ódio ou desprezo. O que é que se sente?
Sinto aborrecimento mas não estou aborrecida, sinto-me chateada e as coisas chateiam-me, sinto-me instável mas já sou instável. A agressividade aumenta e a impaciência não a ajuda. Quero sentir alguma coisa. Alguma coisa que saiba e consiga identificar na paleta de sentimentos, com as quais nascemos equipados. Quero usar uma dessas coisas. Dar-lhe um nome. Dizer palavrões ou chorar ou rir ou ...ou...qualquer coisa.
Nada disso. Não sinto nada porque sinto tudo. Um nó no peito apertado que me corta o ar - suspiro - uma sensação de peso na cabeça e um cansaço permanente - suspiro - hipersómnias que se agravam no tempo, desmotivação face ao trabalho (pudera) - suspiro - um discurso arrogante e uma necessidade bélica premente - suspiro...e no fim de contas a verdade é só uma: sinto tanta coisa, nenhuma definida, que não sinto nada a não ser um vazio negro - não há sentimentos e inconscientemente suspiro, o ar que respiro não chega. As palavras, as acções, o que digo e o que ouço não chegam, não ajudam. Não sei o que sinto, o que deveria sentir. Suspiro.

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