sábado, 30 de julho de 2011

(Des)conversa 38

Eu - Olha tens um berbequim daqueles que faz buracos redondos grandes?

Mano - Quando descobrires um berbequim que não faça buracos redondos avisa-me.

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(Des)conversa 37

Mano - A que horas é aquilo no domingo?

Eu - Às 9h30.

Mano - Tens a certeza? Já foste ver?

Eu - Não mas acho que foi o que vi no horário ...

Mano - Ah ... então porque é que estão a mandar levar protector solar, para não te queimares com a lua, deve ser.

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(Des)conversa 36

Ele - Já falei com o otorrinolaringologista para me pôr umas palhetas no nariz.

Eu - Palhetas no nariz?

Ele - Sim, por causa do ressonar.

Eu - Credo, mas ressonas assim tão alto?

Ele - Tenho de dormir noutro quarto para ninguém acordar.

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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Dias assim ...

Uma manhã quase igual a todas as outras ... das últimas três semanas: acordei atrasada porque não ouço o despertador e isto porque passo as noites a sonhar com cenas estranhas, no caso da noite passada, programei o trabalho para quinta-feira. Acordei e escrevi. Sai a voar de mansinho porque me lembrei que não tinha gasóleo. Não me aborreci, apenas tive de parar para abastecer logo Não ouvi o telefone, logo Não o atendi, logo Não levei o que fazia falta mas continuava de bom humor. Pode-se dizer que o início do dia era um vislumbre do resto ... mas eu ainda não o sabia.

No meio de toda a azafama matinal, sentia-me tranquila, no entanto, havia um pensamento recorrente que não me largava desde o dia anterior e desde o dia anterior que o desvalorizava. Tive uma manhã de trabalho assolapada e fiz asneira que dei conta assim que a fiz mas como em cima de leite derramado não se chora ... optei por me rir e deixar nas mãos de Deus o resultado do meu disparate. E o dito pensamento começava a causar-me ansiedade, como se algo se estivesse a passar e assim, resolvi aliviar a minha maluqueira provando-me a mim própria que tudo estava bem e era um disparate unilateral: confirmei. Na interacção de palavras que surgiu com o alvo do meu pensamento emergente, lembrei-me de uma expressão que utilizo (em relação a mim própria) e disse-lhe: "As vezes é bom estar no fundo do poço porque ganhamos forças para nos segurarmos às laterais e fazer o caminho ascendente" - Claro caso de projecção involuntária que em breves momentos se iria aplicar a mim própria. Fui ... desencadearam-se uma série de acontecimentos no meu trabalho e em relação ao mesmo, que a determinada altura pensei que era a personagem principal de um filme burlesco. Juro que até ouvi os violinos e vi as faíscas do curto-circuito dos meus neurónios. Desliguei-me, como se a "centralina" que me faz mover tivesse queimado e saí como se fugisse, melhor me desvanecesse para longe, numa (clara) frustrada tentativa de salvar a sanidade mental. Incomodou-me, aborreci-me, afligi-me e amolguei a frágil paz interior que construo a passos de lesma. Recomeço.


Lição: ignora tudo o que possas, cinge-te ao real palpável e sem expectar mais do que as certezas - tipo almoço e jantar. Deste modo evitamos dias assim ... tipo merda ... mesmo!

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terça-feira, 19 de julho de 2011

(Des)conversa 35

(No ginásio)


Instrutor - Boa tarde, Dona A., então o seu filho hoje não vem?

Dona A. - Não ele hoje não pode ... não tem a depilação feita.

Instrutor - (a rir-se) não tem a depilação feita? Trazia umas calças.

Dona A. - (séria) ele não gosta de vir ao ginásio ou à praia sem a depilação feita, tem vergonha e eu acho bem. (mais baixo) e ele não gosta de se ver de calças no ginásio.

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segunda-feira, 18 de julho de 2011

É possivel ...









... transformar o "velho" em novo e sentir novamente a adrenalina. Ter aquele brilho nos olhos que combina com um sorriso de puro prazer.



Recuso que me tirem os sonhos, a mágica do pensamento e dos sentimentos. Não me conformo que a vida seja apenas isto. Eu não serei "apenas isto". Chamas-me diferente e ris quando dizes que o mundo não está preparado para mim. Eu não queria ser diferente, eu queria ser igual a todos os iguais que me rodeiam. Queria não ansiar, não desejar e não sonhar, estou grata pelo que sou e tenho mas queria estar conformada. Acordar para trabalhar, beber uns cafés, fumar uns cigarros, em noites de loucura beber uns copos ou meter umas merdas maradas para provar que ainda sou fixe, ir à praia ao domingo ou ao shoping mas depois ... depois chegar a segunda feira e estar tranquila: queixar-me do que não passei, do que não lavei, do que não estendi .... tudo em harmonia - yin/ yang ...





Mas não isso era demasiado simples para mim: assim Acredito que é possível pegar no antigo, nos clássicos, nas rotinas e dar-lhes um sabor novo, nova roupagem e gostar tanto como da primeira vez ... basta mudarmos o olhar e deixarmos de fingir que somos "normais".



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domingo, 17 de julho de 2011

... Deixa-me a pensar ...







Repetes as mesmas palavras, chamas-lhes "a verdade", dizes-me: "Não são para te ofender mas para te deixar a pensar. Considera uma forma de melhorares como pessoa."




Sempre que alguém diz: Não te ofendas ou não leves a mal ... já o está a fazer!



Talvez tenhas razão quando me chamas "menina" e dizes que recuso crescer, talvez o que dizes faça sentido mas não me parece a melhor forma de o fazeres: de me ajudares a crescer. Já pensaste que o meu Eu crescido seja ainda menos funcional? Acreditas mesmo que preciso de limites?




Desta vez, apesar de continuares a usar as palavras menos adequadas, fizeste outro sentido. Talvez, antes, não fosse a altura certa para me confrontares daquela maneira ... nem sei se agora o é ...







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sábado, 16 de julho de 2011

(Des)conversa 34

(ao telefone)


Eu - O que é que estás a fazer?

F - A limpar a casa desde as 2 da tarde.

Eu - Humm ... e o que é que vais jantar? Sei que o H. não está cá.

F - Vou fazer uns bifinhos de peru grelhados, com arroz e uma saladinha.

Eu - Credo homem mas tua ainda andas a contar calorias?

F - Claro e hoje fui ao P.A. a pé.

Eu - Pronto está bem ia convidar-te para vires jantar comigo umas linguiças assadas, uns queijos e assim uns patés ... mas se estás numa light ...

F - Oh mulher caganisso, não é por um dia que me vai fazer mal e se fizer, olha leva-me ao hospital que eles dão-me uma injecção para o colesterol.

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terça-feira, 12 de julho de 2011

Passei o dia a pensar nisto ....









Esta é a banda sonora de algumas "aves raras" ... só que ainda não sabem ... cada vez gosto mais de reuniões ... são um mundo de curiosidades e improdutividades!

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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Fico a pensar ...

e concluo: o melhor é não pensar.
Não tenho bola de cristal (mas gostava), os meus "insights maravilhosos" não me têm como alvo e as epifânias costumam dar-me depois dos acontecimentos e não antes como deviam - não pensar é o caminho.

Como é que se faz? Superego "filha da puta!")

Hoje perguntaram-me o que é que se passava comigo que para além de "uma crise de reactividade" não era normal esta compulsão por uma determinada limpeza. A questão exacta foi: o que é que andas a querer limpar ou desinfectar na tua vida?

Não sei.

Curiosamente não tenho a mais pálida ideia. Poderá um acto banal, ser apenas isso: banal?
Sonho com o assunto: limpo e esfrego mas a sujidade aparece e sonho com outras coisas que simbolizam mudanças e novos começos e que me assustam porque as quero e as temo. Porque as desejo mas não sei como as alcançar. Ou talvez saiba e necessite de um empurrão para re-adquirir skills há muito esquecidos pelo desuso - tipo Lei do uso e desuso de Lamarck.


(suspiro)


a minha paz está ansiosa e voltei aos períodos áureos em que a minha cabeça é uma centrifugadora. Começo a ficar cansada, será que isto nunca mais acaba? Que mal me pode fazer um pouco de estabilidade nos cinco pilares que nos sustêm? Ter um desequilibrado é normal, agora continuar com os cinco almareados, é dose!




Gostava de perceber o que faço de errado para corrigir.


Calma, é preciso calma ... blá blá blá ...


Eu sei.



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domingo, 10 de julho de 2011

"O Fado é que Induca e o Vinho é que Instrói"


Este sábado encerrámos a temporada. Há imenso tempo que não dedicava tanto tempo a um hobby que sempre me foi terapêutico. Naquele palco exorcizo-me, limpo os fantasmas do sótão e deixo-me ir. Algumas das minhas melhores noites nasceram de feridas que me impediam de verbalizar o que sentia e como o sentia, mas quando o pano abria e não era eu que ali estava mas um outro alguém que estava emprestado na minha pele, tudo ficava simples e as lágrimas caiam sem esforço. Quantas personagens, ao longo dos anos, me emprestaram as suas vidas para que eu me psicanalisasse da melhor forma que podia e sabia. Resultou tantas quantas falhou. Equilíbrio. O que não exorcizei em palco, fi-lo em copos e risos de comemorações pós-cena.

O palco vai de férias. O fado é a melhor educação que podemos ter, quando o deixamos irromper à desgarrada ... mas até para vivermos o nosso fado, de quando em vez, necessitamos de domesticar o nosso superego, esse Juiz castrador, que me usa e abusa, para tal nada melhor que o vinho para o instruir nas benesses de apenas: ser.

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sexta-feira, 8 de julho de 2011

(Des)conversa 33

(ao telefone)


Ela - Olá, é só para te dizer que te estive a ler.

Eu - Olá. Agradeço mas não deve ser só para dizeres isso que ligaste. Qual é a constatação?

Ela - Que não concordo quando te chamam mimada.

Eu - Obrigada. Por acaso também não.

Ela - Pois ... porque o que tu és mesmo é orgulhosa e teimosa como a merda.

Eu - Não me parece que tenha apreciado mais essa alternativa.

Ela - Eu sei que não mas o que essas pessoas realmente te queriam dizer era isso: és orgulhosa e teimosa. Tens problemas em receber mas não em dar, logo não és mimada és orgulhosa e teimosa.

Eu - (risos) Já percebi, vou trabalhar-me para melhorar.

Ela - Olha e em relação à ajuda que disse que te dava? Sempre queres que te empreste o dinheiro?

Eu - Épa ... ainda não atingi o desespero. Quando precisar peço-te.

Ela - Vês: orgulhosa e teimosa.

Eu - Ligaste só para te provares a ti própria que tinhas razão.

Ela - Sim. Até logo.

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(Des)conversa 32

Vizinha - Boa tarde, precisava de lhe dar uma palavrinha.

Eu - Diga vizinha.

Vizinha - Queria pedir-lhe se não voltava a usar esses desinfectantes da casa porque me incomodam e fico com dificuldades em respirar. Além disso a menina ficou a sentir-se mal e teve de ir para o hospital.

Eu - Estou em limpezas grandes, tenho de usar desinfectantes senão não são limpezas.

Vizinha - Pois ... eu percebo ... mas até quando colo as próteses de manhã fico com o sabor dos detergentes na boca.

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(Des)conversa 31

(...)

Eu - Crescer é uma merda e ser crescido é outra. Quando pensamos nos 18 anos, tirar a carta e ser "livres", esqueceram-se de nos dizer: "bem vindos ao 1º dia do resto das vossas vidas".

S.C. - Podes crer. É só contas e responsabilidade e mais responsabilidade, posso dizer-te que nesta fase não tenho medo do fim do mundo ... tenho medo é do fim do mês.

Eu - (risos) Podes crer . Se há 10 anos me dissessem que hoje era reclusa das amarras que eu própria criei, ria-me e apostava que não. Agora eis-me a odiar ser crescida e a lembrar que antes a minha única preocupação era ir à escola e pensar onde beber café a seguir.

S.C. - Já viste como nessa fase o que não falta são amigos para fazer tudo e mais alguma coisa ... até o que não devíamos (risos) e agora conto pelos dedos de uma mão quem está presente quando preciso ... parece que o Universo fez uma escolha: tu sais, tu não mereces, tu ficas ... estranho ...

Eu - Acho que são as limpezas Carmicas ... não sei ... penso que é quando evoluímos espiritualmente e há pessoas que deixam de acompanhar e outras, apenas, de fazer sentido. Seja aquilo que for - Crescer é uma merda! Dou comigo a pensar em cenas sem assunto e a tentar perceber se há verdade naquilo que disseram ou se é só mesquinhez.

S.C. - Sério? (ri-se) Então o que é que te disseram que te deixou assim?

Eu - Chamaram-me mimada três vezes. Pessoas distintas, situações distintas, à terceira fiquei a pensar, e claro: amuei.

S.C. - Deixa lá a mim disseram-me: tu não és independente és egoísta!

Também amuei.

Eu - (suspiro) então parece que somos mimadas e egoístas ...

S.C. - Alguma coisa tinha de sobrar da adolescência ...



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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Desassossego.

Espelhei-me.


Os olhos, outrora límpidos e fosforescentes, eram agora um vazio. Dois buracos cheios de nada, a abarrotar do tanto que já viveram, para tão pouca idade. O sorriso forçado, a crença de estar feliz não apagaram o desassossego da alma. Menti. Disse-me fascinada pela imensidão e grandeza do que via. Mas estas portas da alma não acompanharam a voz que saía segura, de uma segurança que só tem quem se ludibria. Olho para estas fotos e apetece-me apagá-las, fingir que não era eu. Não o fiz. Não o faço. Espelho-me e recordo quão abençoada sou, quão satisfeita devo estar pela minha viagem, a rudeza da mesma, mascarou a limpidez dos meus olhos mas acrescentou-lhes uma serenidade ansiosa por tudo o que desejam ver, partilhar. Guardo as imagens daquele eu na memória, qual álbum empoeirado, esquecido num qualquer sótão, de uma qualquer vida. Esta é a minha.


Conseguimos reter as lágrimas, conseguimos oferecer gargalhadas e dar um pouco de humor a quem nos rodeia, conseguimos sorrir quando cada músculo se retrai em dor mas não conseguimos mudar o olhar. Vazar a magnitude do nada que é um tanto que transborda à alma do outro. Só não vê quem não sabe ver, só não sente quem não quer sentir. Mais uma daquelas verdades veladas que guardamos bem fundo e ansiamos que ninguém tenha a gentileza de comentar, pois ao faze-lo, corríamos o risco de partir o espelhado, e deixar os olhos contar uma história que sabemos qual é mas guardamos embrulhada em arame farpado para que doam ao ponto de não conseguirmos olhar de frente. Olhar de alma.


Gosto de olhos e olhares. Gosto dos meus olhos e do meu olhar. Gosto quando têm vida em si. Quando transparece e quando isso acontece dou-me à vida sem medos. Reflectem o que a minha alma não consegue, não quer ou não pode dizer.


Não sei o que dizem os meus olhos agora mas hoje ao olhar para aquelas imagens lembrei o que nunca mais quero que digam.


Que o desassossego tenha um fim.

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sábado, 2 de julho de 2011

Viver

- Achas que sete semanas é pouco tempo para conhecer alguém, namorar, viver junto e casar?



- Não, não acho.

Respondi de alma. Senti-a agradecida. Talvez apoiada.


Acho que não existe um balizamento de tempo. Não deveria existir. Muito ou pouco tempo? Conceito espácio-temporal sobre valorizado. Será o gostar um contrato com "início a 01 de Julho 2011 e terminus a 30 de Junho de 2013"? Haverá prazos, tempos certos ou timmings perfeitos para além daqueles que o nosso instinto, a nossa alma designa. Esperamos pela construção de um bem maior ou pela finitude do todo, que temos agora, para avançarmos para o que desejamos. Perguntaram-me se eu acreditava em "clics" - tirando o da meia noite da passagem de ano - SIM, acredito. E se acreditava na construção do amor. Sim, chamo-lhe manutenção do Eu, Tu e Nós - riu-se satisfeita - senti o alivio brilhar nos seus olhos. As pessoas são julgadoras da decisão alheia, seja o que for, curiosamente, está sempre errado: se namoram 10 anos e não casam, está mal, um deles tem um problema, o outro é "coitadinho"; se namoram e vivem juntos em 6 meses, está errado: são uns precipitados, com medo de ficar sozinhos. Quem somos nós para saber o que os outros sentem, o como e o porquê da decisão tomada. Quem somos nós para saber que um namoro de 8 anos dará uma melhor e mais duradoura união, do que um namoro de 1 mês ou 15 dias. Que pretensões são estas e porquê julgar os outros pelos nossos padrões de moralismo bafiento, cujo único uso dirige-se a terceiros - voltou a sorrir: namorou 8 anos e em momento algum teve estes desejos e esta vontade de se partilhar. Acredito-a. Não se explica mas deve viver-se, porque afinal: tudo é eterno enquanto dura. E nessa eternidade podemos ser e viver o que a alma nos pede - casa - se para a semana.



Desejo-lhe toda a sorte do mundo, nem sempre é fácil encontrar a bilateralidade nos "clics" mas quando se encontra acho que "against all odds" deve-se vivê-los, deixar que essa energia que se encontrou e vibrou em uníssono, flua.


É difícil explicar-se um "clic", difícil de o assimilar, quando todas as células ficam à toa. Percebemos que as sensações despoletadas são diferentes, quase maníacas. Os sentidos vibram num desejo de pele e toque. O sorriso é fácil, inconsciente e perpetuo. As energias convergem e fundem-se, criando a sensação de nos conhecermos desde sempre, tornam-se fáceis os movimentos e os discursos, deseja-se que o café seja eterno. Tenta-se racionalizar, as borboletas no estômago, refreia-se o desejo de tocar, enquanto se absorve os cheiros, os gestos e os movimentos, bebe-se dos seus lábios e questionamo-nos sobre o que nos está acontecer, se o outro sente o mesmo, que nós, se o "clic" é unilateral ou bilateral. O tempo passa e protegidos por uns "eternos óculos de sol", acobardamo-nos, sentimos medo de nos colocar a nu. Verbalizar é incómodo pelo sentimento de pequenez e ridículo, pelo receio da perda do que não se tem e dominamo-nos. Um domínio arcaico e desprovido de sentido pois os pensamentos são expontaneos e arrancam-nos sorrisos no meio de reuniões ingratas, a imagem do outro aparece-nos e reclama um tempo de atenção que não queremos, não podemos dar, pois as incertezas são certas, no entanto, o pormenor do seu cabelo rebelde, do sorriso iluminado e perfeito, das palavras sábias e coerentes, o seu andar, as suas mãos, o modo como bebe o café, tudo isso é recordado. Desejado. É assim que se sabe, "sabe-se" um "clic", quando tememos que as palavras nos traiam e os olhos, essas portas autónomas, nos denunciem, é desejar a pele do outro, desejar conhecer o seu corpo num todo explorado e partilhado. É querer mas encetar uma fuga para a frente ou ficar paralisado, sem saber o que fazer e o que dizer, o discurso explicito difere do implícito, pois todos os poros gritam: Quero-te, quero-me ... Quero-nos.


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