quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Nada

Nada, simplesmente nada. Poderá o "Nada", ser o tudo ambicionado? Poderá o "Nada" ser o alimento de uma mente perturbada?

Sentado naquela rocha tecia considerações sobre o que significava realmente o ter, ser, ver nada. Seria somente o vazio, o vácuo e a ausência de um qualquer materialismo desejado na ânsia de preencher a área lacunar das emoções? Não acreditava nisso, não podia. Quantas vezes o nada, era preferível a umas quaisquer palavras moribundas e desprovidas de significado real; quantas vezes o não fazer ou não nos fazerem nada, era o elo dourado de uma corrente que tolhe movimentos e sentimentos. Agora, ali sentado, observava o sol que iniciava a sua descida. Já tinha sido feliz ali. Um marco geodésico para Portugal e um marco na sua vida “Onde a terra se acaba e o mar começa” (in Os Lusíadas, Canto III). Ali, naquele sitio, o fazer nada, o decidir nada tinha marcado o rumo da sua vida. Não lamentava. Com o sol a bater-lhe na cara, as recordações eram calorosas e surgiam como um nada, suave e tranquilo. Gostava de ali ir, de imaginar como tinham sido as partidas nos Descobrimentos, como teria sido dobrar aquele mar que apenas permitia avistar um nada: o fim do mar e o inicio de um céu. Que mistérios estariam do lado de lá. Como se venceria o medo? Seriam suficientes a coragem e a audácia? A alma de aventureiros e o desejo de novas conquistas, permitia que o nada fosse um tudo que alimentava a esperança e a audácia.

Há muitos anos que não ia aquele sitio, estava como o recordava. Ou estaria como o queria recordar? Não interessava nada tais ruminações sobre um real alternativo que a existir partiria de um pressuposto de pensamento contrafactual. Preferia não pensar em nada. Quaisquer teses ou premonições assentavam em inconsistências de factos palpáveis, apenas no nada. Sabia agora que nada pode ser muito, pode ser tudo: pode ser o silêncio que se precisa quando as lágrimas teimam em sair; pode ser a tão necessitada ausência de acção da parte do outro que nos dá o calor e aconchego necessitado; pode ser o tempo que se têm em harmonia perfeita com o nosso intimo. Afinal, o nada podia ser aquilo que ele senti-se como tal, a paz de espírito, o sorriso que surge sem motivo aparente ou o bem estar interior de quem se sabe consigo e para si.

O sol já tinha entrado na sua casa, o céu era agora iluminado por uma lua, brilhante e redonda que em nada, fica atrás do seu companheiro diurno. Estava na altura de partir. Afinal não estava ali a fazer nada.

0 comentários:

  © Blogger templates Psi by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP