quinta-feira, 6 de março de 2014

Reflexão # 5

A solidão acompanhada não é mais que a discrepância entre as relações expectadas e as relações existentes.
 
 
Esperamos demais dos outros, esperamos demais de nós próprios. É uma bitola invisível e megalómana que nos impele, ainda que inconscientemente, a ser os melhores, os mais giros, os mais felizes. As revistas trazem milhares de artigos sobre como alcançar a felicidade plena, a estabilidade e a beleza digna de Hollywood, as páginas do facebook mostram-nos, inequivocamente, que existem milhares de pessoas com vidas fantásticas, "perfeitas", e quantos livros de auto-ajuda, tão na moda, nos dão as dicas para sermos plenos, realizados e irremediavelmente felizes, e quão pequeninos, estúpidos ou ignorantes nos sentimos, por seguirmos todas as "visualizações", pensamentos positivos e outras técnicas mais, e ao invés de nos sentirmos melhores a cada dia apenas ficamos mais frustrados. A sentir que temos "um problema grave" - se as dicas funcionaram para milhões de leitores, porque não connosco - que tipo de pessoas somos, que nem um mero livro, com dicas tão simples e óbvias, conseguimos seguir?
 
Assim se vai vivendo, crédulos da felicidade alheia, como algo incontornável e inquestionável, e descrentes no amanhã e na aplicação correcta da formula mágica que resolve todos os problemas.
 
Estou em crer que a única "formula mágica" somos nós ou melhor: está em nós. A nossa capacidade de resiliência, de lidar com as frustrações, de adiar a gratificação, e principalmente na tolerância a nós e ao outro: a consciência de que onde existe mais do que um querer, terá de existir cooperação, uma solução de compromisso. Pois quem tudo cede e tudo dá, sem nada receber a determinada altura sente-se vazio, drenado, esgotado, e quem tudo recebe, sem nunca dar perde, o respeito pelo outro e pelas suas necessidades.
 
Quão imperfeito é ser-se perfeito. Quão trabalhosa é a felicidade, que vendida encadernada, vem sempre fora de prazo. Quão sós estamos no meio de uma multidão barulhenta e invasiva.
 
Nesta procura incessante de bem estar, pedem-se sinais que de tão óbvios, são enviesados para aliviar o que intimamente já sabemos: a perda, o nada, o vazio ou quimeras perdidas. Repete-se o mesmo erro vezes sem conta, sempre na expectativa de um resultado diferente. Os padrões de comportamento, de pensamento, de estar e de ser, são subtis - o problema não está no outro, nos artigos coloridos ou livros milagrosos - está em nós e nas expectativas irrealistas que nos impingimos como formula mágica: se eu fosse... se eu pudesse ... se eu tivesse ... finalmente seria feliz (?!?) 

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