A imperfeição da perfeição
As constantes mensagens subliminares de perfeição, a necessidade constante de ser mais e melhor, e a insatisfação que advêm de expectativas goradas. Queremos ser magros e ter um corpo perfeito nem que para isso seja necessário passar fome ou tornar-mo-nos adictos do ginásio, e quando não resulta tentam-se as várias dietas milagrosas, os cosméticos e em ultimo recurso as operações plásticas. tudo justificado, tudo em prole de uma suposta perfeição que nos trará a admiração do outro, o bem estar desejado e a felicidade sonhada. Ser feliz, é o que buscamos, ainda há pouco tempo a felicidade era ter as melhores férias, de preferência num qualquer país de mar e sol, ter o melhor emprego, o melhor ordenado, o melhor carro, a melhor casa, o marido mais bonito, bem sucedido, uma mistura entre a beleza metrossexual e a pseudosegurança do homem latino, todos queremos ter os filhos mais bonitos, mais espertos, mais hiperactivos, mais sobredotados, os amigos mais destacados socialmente, no fundo a busca insaciável de sermos perfeitos.
Quanta disfuncionalidade existe na busca da perfeição, e de cada vez que pensamos estar mais perto, algo surge que nos atrasa ou lembra que ainda temos de ser um pouco mais, tentar um pouco mais, fazer um pouco mais, e assim se alimenta esse monstro da eterna insatisfação.
Longe de nós sermos racistas, xenófobos, invejosos ou ter sentimentos mais mesquinhos mas condenem-se os fumadores, os gordos, os feios, os heroinomanos, os mentalmente diminuídos, e todos aqueles que nos lembrem como não somos perfeitos. Arranjam-se desculpas perfeitas que nos distinguem dos demais, da sua pequenez, contribuindo, assim para a nossa perfeição: gostamos de comer mas passamos a sofrer de bulimia, odiamos ginásio mas tomamos uns quaisquer esteróides e/ou anfetaminas, naturais claro está, que tem um efeito milagroso a esculpir o nosso corpo perfeito, e assim nasce a vigorexia. Não suportamos os adictos, fumadores, alcoólicos, jogadores - a imperfeição, a tacanhez - por isso bebemos whisky envelhecido em cascas de carvalho e metemos linhas de coca ou fumamos cohibas, o que nos distingue e dá um lugarzinho entre os distintos, entre aqueles que tem vidas perfeitas, são ricos, com mulheres lindas, filhos fantásticos, quadros superiores de uma qualquer multinacional mas que na sua perfeição necessitam de um escape, seja alcançar uma sensação de suposta normalidade nos braços de uma ou um alguém, menos perfeito, seja abandonarem-se num copo do melhor e mais caro nectar de baco, seja através de antidepressivos, benzodiazepinas ou estabilizadores do humor.
Curiosamente "a perfeição" assemelha-se muito a um qualquer artigo de uma qualquer revista cor de rosa ... a formatação do ser e do ter?
Consciente ou inconsciente, sentimos ou somos impelidos a sentir que a perfeição é a felicidade, quanto mais a procuramos mais insatisfeitos nos sentimos, mais desfasados e disfuncionais, até que surge uma nova moda que "vende" a ideia de perfeição, e ai vamos nós - é aquele carro, aquele cão, aquele emprego, aquela mulher ou homem, aquela viagem, uma abdominoplastia ou um lifting, um Richebourg Grand Cru acompanhado de 5J, finalizado com Dalmore Trinitas 64 e Cohiba Behike, isto sim é a perfeição mas porque será que no fim do dia falta qualquer coisa, assim uma qualquer coisa que não sei bem o que será ... qualquer coisa perfeita, que me proporcione uma sensação de êxtase e plena felicidade.
O problema da perfeição, é que lhe falta sempre qualquer coisa para ser perfeita, e enquanto corremos atrás da nossa perfeição, seja ela aquilo que for e na forma que for, vamo-nos sentindo insatisfeitos, incompletos, arrisco: imperfeitos.
Talvez a perfeição seja como a felicidade: momentos significativos que nos proporcionam bem estar, e quando se tornam diários, tornam-se rotineiros e garantidos, deixando de libertar, na mesma quantidade, as hormonas da felicidade ... talvez.
e amanhã recomeça a procura.
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