Um dia ...
Com
 o coração preso na garganta contemplava o exterior na vã esperança que 
os primeiros raios de sol da madrugada derretessem o gelo que lhe 
solidificava a alma. Olhava a sua pele escura queimada pela violência 
dos dias, nela descansam cicatrizes tão profundas que formam sulcos, 
podia apontar cada uma e descrever a profundidade da mesma. Já não 
importa de onde vieram as cicatrizes, ninguém lembra como fora antes, 
ninguém estranha o manto que a cobre - apenas ela que não consegue 
render-se. Apesar dos dias frios de alma, segura-se à vida acreditando 
nos campos floridos e na chegada da primavera - talvez amanhã o sol me 
aqueça, talvez hoje derreta a alma, e de si brotem lágrimas salgadas que
 lembrem a infinitude do mar, a sua calma e agitação, a sua 
personalidade vincada que impõe respeito mas também paz.  Os espelhos da
 alma, outrora vividos e fontes de luz caíram , partindo-se em mil 
estilhaços. O verde outrora vibrante deu lugar a uns eternos óculos de 
sol que permitem ocultar o vazio reinante. Perdeste quem um dia foste, 
perdeste pedacinho a pedacinho, e não soubeste apanhá-los, guardá-los 
hermeticamente para que não definhassem. Poderás reimplantar a alma? 
A
 Fé não se explica, sente-se, é um Acreditar tão profundo como as 
entranhas da humanidade, é contemplares a chegada da madrugada e 
acreditares que a cada novo despertar a alma vai aquecendo, e o coração 
ganha cor. Um dia recuperas o verde dos teus olhos, um dia o coração 
volta a bater no peito, um dia a alma será candeia que (te) alumia ... 
um dia, Acredita em mim, um dia a solidão é companhia, o negro luz e a 
noite dia. 
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