Despir...2008...2009...
...despedir-me de uma etapa de vida. Dentro em breve acaba mais um ano civil, apesar de não acreditar que há meia noite há um "clic" mágico que dissolve agruras e amargos ganhos ao longo de 12 meses, acredito que é uma época nostálgica que mesmo sem querermos nos deixa pensativos, nos faz olhar para trás e fazer o somatório de sucessos e fracassos, de sonhos realizados e projectos adiados e por tudo isso acho que o "clic da meia noite" deverá antes ser um agradecimento por tudo o que está passado e por tudo o que está a chegar. Não agradeço por se tratar de o começo de um novo ano, porque a vida é um continuo submetido às vontades do Universo e ao nosso livre arbítrio nas escolhas que fazemos, agradeço sim porque passei mais 12 meses de intensa e profunda aprendizagem, 12 meses em que sarei feridas anímicas, em que "li", escutei, revi e arrumei "despojos de guerra", adquiridos no doloroso ano de 2008. Este ano que finda, foi o ano da aprendizagem prática da paciência, do aprender a escutar-me e a sentir-me, mas ainda não a dar-me. O ano de 2009 foi um ano em que batalhei cega e furiosamente nos seus primeiros 10 meses e em cheguei ao fim com a terrível sensação de estar a nadar no seco: nada realizei, nada do que me propus consegui que se materializa-se e gastei-me. Senti-me inundada por um cansaço horroroso, chorei apenas porque sim ou porque já não sabia que mais fazer, por me sentir enjaulada. Baixei os braços e deixei que o desanimo e a desventura me invadissem, os outros sentiram-me zangada com eles, quando era apenas zangada comigo e a minha incapacidade de sair do fundo do buraco. Parei. Parei-me. Olhei à volta e desisti. Quando deixei de marrar contra a parede, fui inundada pela paz. Percebi e percebi-me: não é preciso deixar de sonhar e de Acreditar mas por vezes é preciso parar, sermos parados para "escutarmos" o que nos rodeia, ou tão somente para sentirmos. A queda das folhas no Outono, as tempestades deste Inverno, cada vez me fazem perceber melhor o sentido do imutável e da nossa renovação. O mundo parece permanecer estático mas naquele jardim as árvores despojam-se do velho, da sua "roupagem desse ano" e aguardam serenamente até se cobrirem com um novo manto verde, e seguidamente vem as flores e por fim os frutos. De ano para ano tudo é novo, excepto o tronco que suporta essa nova aventura. O conhecido segura-nos, são as nossas raízes e todos precisamos delas, são a nossa identidade e a nossa pertença e é fulcral sentirmos que pertencemos a algo, a alguém ou a algum sítio. O voltar a casa, mas até lá os meios, os processos que lhe são adjacentes, esses representam a viagem, são o "novo". A renovação, a transformação, a mudança, esse "novo" temos de o arriscar, não quando pensamos que queremos mas sim quando sentimos que estamos prontos para o receber e aí ele virá, lentamente, mas cresce até atingir a frondosidade que nos dá sombra. A natureza é dona do segredo: paciência. As coisas acontecem quando tem de acontecer, sê grato e paciente para as receber, ou melhor, saber receber.
Excelente ano este de 2009, é na dor que se cresce, é no sofrimento que se aprende e é na paciência que se conquista. Há alguns anos deixei de ter expectativas para o novo ano, mantinha os meus objectivos pessoais e a persecução dos mesmos. Este ano não mantenho nada, apenas mostro a minha gratidão por tudo o que tenho recebido na vida e esforço-me por ser "tábua rasa" e receber da melhor maneira que puder e souber, tudo o que está para vir. Dispo-me de conceitos, preconceitos, de estereótipos e estigmas mas não dos sonhos. Dispo-me de pensamentos obsessivos e recorrentes de realizações egoístas mas não do desejo de partilha e união. Dispo-me da obstinação mas não da persistência. Dispo-me da tristeza mas não das lágrimas. Dispo-me de hábitos antigos e vícios ultrapassados mas não de valores e ideais.
Dispo-me para me despedir de tudo o que já não me faz falta. Dispo-me para abraçar o novo. Tenho quatro meses para me despedir de tudo o que já não faz falta, para deitar fora, para me despir do que está em desuso e a prejudicar-me, porque aí sim, dá-se o inicio do Meu ano novo. Por agora, dispo-me para continuar uma despedida iniciada já algum tempo e isso implica receber o inicio do ano civil, receber 2010 já com algumas mudanças. Agradeço-as.
A todos Bom Ano Novo!!!