terça-feira, 17 de junho de 2014

A morte e o luto em mim.

Quando os pais dos nossos amigos falecem, acabamos confrontados com a nossa realidade, a projectarmos os nossos medos, e  a revermo-nos nas situações. A vivência de uma dor ou somente a sua antecipação consomem-nos pelo confronto com  a nossa impotência e pequenez: podemos tudo mas na verdade sentimos, nestas situações, que afinal, nada podemos.
Num aula sobre luto, o Professor António Coimbra de Matos, disse uma vez que quando confrontados com a morte choramos por nós próprios, pela identificação à situação ou pelo lutos que não realizámos anteriormente. Revejo-me sempre.
 
A morte, o luto, apesar de naturais, se serem parte integrante da vida são algo que me amedronta, que sei antecipadamente que não conseguirei resolver, assimilar ou acomodar. A morte e o luto em mim são "bicho-papão", corroem-me só de pensar pois simbolizam a vastidão de um vazio impreenchível, de uma solidão mortífera, e de uma desorganização caótica.
 
Finjo que sim, que lidarei com a situação, que sou forte, e tenho o arcaboiço necessário para lidar com semelhante situação mas na realidade sempre desejei que todos me sobrevivessem e não fosse eu a ter de passar por isso.
Egoísmo? Talvez mas sei que é um pensamento/ sentimento que me aterroriza e paralisa. A minha capacidade de resiliência, de luta, racionalização ou sobrevivência, aqui de nada me servem. Assumo a pequenez, a imaturidade e os medos. Afinal este manto que me cobre não é assim tão espesso nem à prova de "bala".

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