sábado, 27 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Divagando ...
Já não pertenço a esta cena: desça o pano e passemos ao segundo acto!Read more...
Foda-se!!
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida. Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)
Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado
amor-íntimo nos lábios. E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de
maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a sem documentos do carro, sem
carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!" Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
foda-se!!!
Mas não desespere:
Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”
Atente no que lhe digo!"
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Aceitação
Estamos formatados, não só ao contexto e à cultura berço, mas também àquilo que defendemos como sendo o nosso EU. A mudança é um processo exigente e de rigor, moroso e doloroso. As recaídas no fácil superam os avanços e cada passo leva-nos mais perto da vontade de recuar.
Quando algo não acontece de acordo com o que esperávamos, quando nos desiludimos, quando não concretizamos o que nos propusemos, tendencialmente, entramos num locus de culpa externa. Porque é bastante mais fácil que o processo que nos remete para dentro de nós. Conseguimos racionalizar, conseguimos até perdoar, no entanto, temos tanta dificuldade na aceitação do outro e da sua realidade.
São cinco as etapas de qualquer processo de luto (Modelo de Kübler-Ross): afectivo relacional, familiar, social, laboral e de morte efectiva. As fases são sempre as mesmas e apesar de não haver nenhum clic na passagem de um para o outro, temos de os passar a todos na íntegra, ou corremos o risco de nos danificar irreversivelmente.
1. Negação - este é o primeiro estádio, é aquele em que achamos impossível "aquilo" estar a acontecer-nos a nós. Tendencialmente remete-nos para o isolamento, devido à "injustiça" sentida por sermos "o alvo".
2. Raiva - Esta fase inicia-se quando a primeira ainda decorre, é a do "porquê eu", "devia ter acontecido a A ou B, porque merecem mais"; "A culpa disto tudo é de Beltrano ou/ Sicrano". Não é possível racionalizar nesta fase, tudo o que possa ser dito será usado contra o interlocutor.
3. Negociação - nesta fase já percebemos que não vale a pena negar o evidente ou culpar os outros, por isso tenta-se suportar a dor através da "troca justa": "Se me curar deixo de fumar; se ele voltar para mim deixo de ser ciumenta/o; se não for despedido passo a trabalhar mais horas".
4. Depressão - quando já percebemos que a negociação não é viável, ou não funcionou, entramos numa fase de humor deprimido que se não for controlada atempadamente, descamba num processo depressivo de acomodação e desistência: "nada vale a pena; não há esforço que justifique ...";
5. Aceitação - Chegar a esta fase, em tempo normativo, pode demorar até um ano. Há pessoas que levam mais tempo, entrando num registo patológico e outras ainda que nunca lá chegam. É difícil aceitar coisas que nos magoam, que fugiram do nosso controlo, que não esperávamos ou tão simplesmente são diferentes de nós, do nosso estádio de vida, da nossa personalidade.
A Aceitação, nossa, do outro, das coisas e situações que não controlamos e não podemos dominar esse é que é o grande desafio. Arrisco!